O agronegócio brasileiro pode enfrentar um forte impacto se o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cumprir a promessa de aplicar sanções secundárias a países que mantêm comércio com a Rússia. A medida, voltada a pressionar Moscou por um cessar-fogo na guerra contra a Ucrânia, tem prazo de formalização até esta sexta-feira (8).
Dependência elevada de insumos russos
Atualmente, 26% dos fertilizantes importados pelo Brasil vêm da Rússia, principal fornecedor do insumo para a produção agrícola nacional. No segmento de combustíveis, a participação russa nas compras externas brasileiras é de 15%. Juntos, fertilizantes e combustíveis respondem por 84% do valor total importado pelo Brasil daquele país.
Trump já puniu a Índia
As sanções secundárias deixaram o campo das ameaças nesta semana, quando Trump anunciou aumento “substancial” das tarifas, hoje em 25%, sobre produtos indianos por Nova Déli continuar adquirindo petróleo russo. Em publicação na rede Truth Social, o presidente norte-americano acusou o governo indiano de lucrar com a revenda do petróleo e ignorar as mortes na Ucrânia.
NATO cita Brasil, Índia e China
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Mark Rutte, mencionou explicitamente Brasil, Índia e China entre os países que podem ser atingidos pelas sanções caso não reduzam negócios com a Rússia. “Isso pode ser muito prejudicial”, disse Rutte em 15 de julho, instando líderes dessas nações a pressionar Vladimir Putin por negociações de paz.
Meta de reduzir importação não avança
Lançado em 2022, o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF) pretendia diminuir a dependência externa de 85% para 45% até 2050. Contudo, dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) mostram estagnação. A produção doméstica caiu de 7,7 milhões de toneladas em 2022 para 6,9 milhões em 2023 (-10%) e alcançou 7,2 milhões em 2024, ainda abaixo do nível inicial.
Custos e exportações ameaçados
Análise do Itaú BBA alerta que a eventual ampliação das sanções pode elevar significativamente os custos de produção, sobretudo em razão da dependência de MAP, cloreto de potássio (KCl) e ureia russos. O relatório também aponta risco às exportações brasileiras: 27% do amendoim, 22% da ervilha e 11% do amido vendidos ao exterior têm a Rússia como destino.
Parlamentares da Frente Parlamentar da Agropecuária e representantes do setor já comunicaram o Ministério das Relações Exteriores sobre o temor de retaliação. A agência Reuters classificou a possível medida norte-americana como “caótica” para agricultores da América Latina. Para Lucas Costa Beber, presidente da Aprosoja-MT, novas barreiras às importações russas “inviabilizariam” a produção de commodities.

Imagem: Yuri Gripas via gazetadopovo.com.br
Disputa global por adubos deve aumentar
Segundo Bruno Castro, especialista em fertilizantes da consultoria Argus, a Rússia é um fornecedor chave e sua saída forçada do mercado pressionaria preços e acirraria a competição por outras origens. Em 2024, os russos responderam por 2,3 milhões de toneladas de fertilizantes fosfatados (27% das importações brasileiras), 5,4 milhões de toneladas de potássio (38%) e 1,5 milhão de toneladas de ureia (18%). No primeiro semestre de 2025, a fatia russa no potássio subiu para 54%.
Castro destaca que a substituição de fornecedores, especialmente nos produtos à base de fósforo e potássio, seria lenta e custosa, pois o Brasil teria de competir com grandes consumidores como Índia, China e Estados Unidos em um mercado já restrito.
Se confirmadas, as sanções secundárias norte-americanas podem, portanto, encarecer os fertilizantes, elevar o custo de produção agrícola no Brasil e comprometer a competitividade do setor no mercado internacional.
Com informações de Gazeta do Povo