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Quase 25% dos jovens brasileiros estão fora da escola e do trabalho, diz OCDE

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Brasília — Mais de 10 milhões de brasileiros entre 18 e 24 anos, o equivalente a 24% dessa faixa etária, não estudam nem trabalham, segundo dados divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) na semana passada. O contingente, conhecido como “geração nem-nem”, supera a média global de 15% e está bem acima dos 13% registrados pelos países integrantes da organização.

Embora o Brasil tenha reduzido a proporção de jovens inativos de 30% em 2019 para 24% atualmente, o avanço é considerado lento diante da urgência do problema. A OCDE destaca que a distância de dez pontos percentuais em relação à média dos países desenvolvidos representa o desperdício de uma fase decisiva para a formação de capital humano e para a produtividade nacional.

Desigualdade de gênero amplia o desafio

A análise revela que 29% das mulheres jovens se encontram na condição “nem-nem”, contra 19% dos homens. A disparidade sugere que fatores culturais e responsabilidades familiares têm impacto maior sobre a trajetória feminina, afastando parte significativa das jovens do sistema educacional e do mercado de trabalho.

Lacunas no ensino médio e seus efeitos

Em 2023, 27% dos brasileiros de 25 a 34 anos não concluíram o ensino médio — quase o dobro da média da OCDE. Entre quem não terminou essa etapa, só 64% estão empregados, ante 75% dos que concluíram. Além disso, 59% dos trabalhadores sem diploma do ensino médio recebem menos da metade da renda mediana do país, percentual que cai para 28% no conjunto de nações desenvolvidas.

Formação técnica avança, mas continua aquém

A participação de matrículas em cursos técnicos no ensino médio subiu de 8% em 2013 para 14% em 2023. Mesmo assim, o índice representa apenas um terço da média da OCDE e fica abaixo do observado em outros países latino-americanos.

Ensino superior: baixo acesso e alta evasão

Apenas 24% dos jovens adultos possuem diploma universitário, menos da metade do nível verificado na OCDE. Três em cada quatro estudantes fizeram intervalo de ao menos um ano entre o ensino médio e a faculdade, ante 44% nos países desenvolvidos. Apenas 38% finalizam o curso no tempo mínimo; com três anos adicionais, a taxa sobe para 49%, enquanto a média da OCDE chega a 70%. A evasão no primeiro ano é de 25%, quase o dobro dos 13% observados internacionalmente. Somente 1% conclui mestrado, bem distante dos 16% da organização.

Apesar da baixa cobertura, o retorno financeiro de um diploma é elevado no Brasil: quem possui ensino superior ganha, em média, 148% mais que quem concluiu apenas o ensino médio. Na OCDE, a diferença é de 54%.

Investimento alto no total, baixo por aluno

O país destina 4,3% do Produto Interno Bruto à educação, acima dos 3,6% da OCDE. Contudo, o gasto anual por aluno é de US$ 3.762, cerca de um terço dos US$ 15.102 investidos pelos países desenvolvidos. Entre 2015 e 2021, o desembolso público brasileiro para a área caiu 2,5% ao ano, enquanto a média da OCDE aumentou 2,1% no mesmo período. A participação da educação no orçamento federal recuou de 11% para 10,6%.

Sinais de melhora

Alguns indicadores mostram evolução recente. A taxa de matrículas de crianças de zero a dois anos subiu de 16% para 25%. No último ano antes do fundamental, 90% das crianças estão na escola, contra 96% na OCDE. O tamanho médio das turmas caiu para 20 alunos, três a menos que em 2013, e a carga horária anual do fundamental chega a 800 horas — ainda abaixo das 804 horas do fundamental I e das 909 horas do fundamental II nos países desenvolvidos.

Para a OCDE, a permanência de um quarto dos jovens brasileiros fora da escola e do mercado de trabalho compromete tanto o futuro dessa geração quanto o potencial de crescimento econômico do país.

Com informações de Gazeta do Povo