Brasília – O Congresso do México aprovou na quarta-feira (10) um aumento de pelo menos 35% nas tarifas de importação de 1.463 produtos provenientes de 12 países, entre eles o Brasil. A medida, que passa a valer em 1º de janeiro de 2026, integra o chamado Plano México, iniciativa da presidente Claudia Sheinbaum para proteger a indústria local e dificultar a triangulação de mercadorias chinesas via território mexicano.
Alimentos, têxteis, siderurgia, eletrodomésticos, autopeças, eletrônicos, plásticos, químicos e semimanufaturados de aço e alumínio entram na lista tarifária. Segundo o Senado mexicano, o objetivo é “equilibrar a interação do mercado” e evitar distorções que comprometam setores estratégicos, além de preservar cerca de 320 mil postos de trabalho.
Brasil entre os mais atingidos
O Brasil figura entre os países mais impactados, ao lado de Coreia do Sul, Índia, Indonésia, Rússia, Tailândia, Turquia e Vietnã. Para a exportação brasileira, os segmentos automotivo, têxtil, de vestuário, plásticos, eletroeletrônicos e de calçados tendem a sentir o maior efeito do novo imposto de importação.
De janeiro a novembro de 2024, o México foi o sexto principal mercado para produtos brasileiros, atrás de China, Estados Unidos, Argentina, Holanda e Espanha. No período, as vendas atingiram US$ 7,1 bilhões, queda marginal de 1% em comparação com igual intervalo do ano anterior.
Na pauta bilateral, cinco dos dez itens mais embarcados ao México são do agronegócio (carnes de aves, bovina e suína, soja e café). Três são ligados à indústria automotiva (veículos comerciais, de passageiros e autopeças). Aviões comerciais e produtos semimanufaturados de ferro ou aço não ligado completam o ranking.
Os destaques de crescimento no acumulado de 2024 foram aviões comerciais (sem registros no mesmo período de 2023), carne bovina, com alta de 235%, e carne suína, com avanço de 81,1%.
Pressão por acordo de livre comércio
Apesar de existirem pactos setoriais entre os dois países para segmentos como automotivo, borracha, plásticos, máquinas, sabões e cremes dentais, mais de 70% do intercâmbio continua sem cobertura tarifária preferencial. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) defende acelerar as negociações de um acordo de livre comércio a fim de reduzir o impacto do tarifaço. “É preciso acelerar a negociação de um acordo de livre comércio”, alertou o presidente da entidade, Ricardo Alban.
Cenário econômico mexicano
A guinada protecionista ocorre em meio a uma recessão no México. O produto interno bruto caiu 0,3% no terceiro trimestre de 2025, e a projeção de expansão para todo o ano é de apenas 0,7%. O consumo privado recua com a desaceleração da massa salarial, enquanto a formação bruta de capital fixo encolheu 7,3% no acumulado do ano.
No mercado de trabalho, a criação de vagas formais atingiu o menor nível desde 2010 (excluído 2020, ano da pandemia), e a informalidade ultrapassa 55%. Relatório do banco BBVA indica recuperação lenta, com expectativa de crescimento de 1,2% do PIB em 2026 e riscos fiscais crescentes: sem reforma tributária ou ajuste de gastos, a dívida pública pode chegar a 58% do PIB em 2030.
O protecionismo também antecede a revisão do acordo comercial com Estados Unidos e Canadá (USMCA), marcada para 2026, em cenário de pressões constantes do presidente norte-americano, Donald Trump.
Para o Brasil, a prioridade é blindar setores estratégicos e evitar perdas expressivas diante da nova tarifa mexicana.
Com informações de Gazeta do Povo