Analistas consultados por diferentes institutos avaliam que a ênfase do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na defesa da soberania nacional, reforçada após o “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos e pela aproximação com Donald Trump na Assembleia Geral da ONU, ajuda a recuperar popularidade, mas dificilmente sustentará votos até a eleição de 2026 sem melhora perceptível da economia.
Oscilação na popularidade
Depois de atingir desaprovação recorde de 57% em maio, em meio ao escândalo de desvios no INSS, Lula viu uma reação: a pesquisa Genial/Quaest registrou aprovação em 51% na última sondagem, resultado que interrompeu a trajetória de queda, mas não mostrou novo avanço.
Economia ainda pesa mais que retórica
Para Sérgio Sakurai, economista da USP de Ribeirão Preto, as condições materiais do eleitor seguem determinantes — um cenário que, segundo ele, confirma a máxima de que “é a economia que decide”. A cientista política Graziella Testa, da FGV, observa que o brasileiro costuma responsabilizar diretamente o presidente pelo ambiente econômico.
Indicadores mistos
O mercado de trabalho exibe sinal positivo: a taxa de desemprego ficou em 5,6% no trimestre encerrado em julho, o menor patamar da série histórica da PNAD Contínua (IBGE). Em contrapartida, a inflação projetada pelo Banco Central chega a 4,8% em 2025, contra meta de 3%. Para 2026, a previsão recua a 3,6%, ainda acima do objetivo oficial. O Comitê de Política Monetária manteve a Selic em 15% ao ano na reunião de setembro e indicou que o nível contracionista deve permanecer por período prolongado.
Sakurai relaciona juros elevados ao desequilíbrio fiscal: gastos correntes seguem altos, o que força o governo a emitir dívida, compete com o setor privado por recursos e desestimula investimento produtivo.
Pacote de bondades em ano pré-eleitoral
Em movimento oposto ao aperto monetário, o Planalto lançou programas de impacto social, como Luz do Povo (isenção de energia para famílias de baixa renda, custo estimado em R$ 3,6 bilhões anuais) e Gás do Povo (subsídio de R$ 5,1 bilhões). Estuda ainda transporte coletivo gratuito, que pode ultrapassar R$ 50 bilhões se implantado todos os dias.
No Legislativo, a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou substitutivo ao PL 1.952/2019 que eleva a faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil, cria descontos graduais até R$ 7.350, tributa dividendos e inclui programa de regularização para baixa renda. O texto segue para a Câmara, onde o governo defende projeto semelhante e discute compensações, como alíquota progressiva para rendimentos acima de R$ 600 mil anuais.
Cenário externo imprevisível
O aumento de tarifas dos EUA gera incertezas sobre exportações brasileiras. Para Fabrizio Velloni, da Frente Corretora, medidas adicionais de Trump não estão descartadas e podem pressionar inflação doméstica. Já Daniela Campelo, da FGV-EBAPE, vê espaço para eventual recuo nas sobretaxas diante da pressão de empresas americanas.
Projeções de crescimento
O Banco Central reduziu em setembro a estimativa de expansão do PIB para 2% em 2025 e 1,5% em 2026. Embora modestas, as taxas, combinadas ao desemprego baixo, podem dificultar críticas da oposição, avalia Sakurai, mas não eliminam o risco de desgaste caso inflação e juros se mantenham altos.
Especialistas concluem que, salvo nova surpresa econômica, o sentimento do eleitor diante de preços, emprego e renda seguirá decisivo sobre a disputa presidencial, enquanto o discurso de soberania tende a funcionar apenas como complemento.
Com informações de Gazeta do Povo