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Próximo presidente precisará de “terapia de choque” fiscal para conter dívida, diz UBS

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Brasília – Economistas do UBS Wealth Management avaliam que o governo que tomar posse em janeiro de 2027 terá de adotar um ajuste fiscal “rápido e profundo” para impedir que a dívida pública brasileira ultrapasse 100% do Produto Interno Bruto (PIB) depois de 2027.

Déficit crescente pressiona contas públicas

Segundo projeções da instituição, a relação dívida/PIB, que estava em 78,6% em outubro de 2025, deve chegar a 83,8% em 2026. Sem reformas estruturais, o indicador continuaria avançando em ritmo acelerado, superando três dígitos nos primeiros anos do próximo mandato presidencial.

A estimativa foi apresentada por Solange Srour, diretora de macroeconomia, e Luciano Telo, diretor de investimentos do UBS para o Brasil. Ambos concederam entrevista à Gazeta do Povo e reforçaram que o país atravessa uma “encruzilhada fiscal” que não comporta mais soluções graduais.

Gradualismo considerado inviável

Para os executivos, ajustes lentos prolongam a incerteza, elevam prêmios de risco e desestimulam investimentos. O exemplo citado é o da Grécia, que após 2010 apostou no aumento de impostos e retardou cortes de despesas, registrando queda superior a 25% do PIB e desemprego acima de 27%.

Câmbio como primeiro alerta

Srour avalia que o câmbio será o primeiro termômetro de uma possível crise. Um real mais fraco encarece importações, pressiona a inflação e dificulta a redução da taxa Selic. O UBS calcula que a taxa de juros real que equilibraria a economia deveria ficar em torno de 6% ao ano, mas hoje está perto de 10% devido à baixa credibilidade fiscal.

Dívida mais sensível a juros

A composição da dívida também preocupa. O Tesouro tem dificuldade para alongar prazos e aumentar a participação de papéis prefixados, ampliando a exposição a títulos atrelados à Selic. Com juros altos, o custo do serviço da dívida sobe e agrava o resultado nominal – atualmente próximo de 8% do PIB.

Para estabilizar o endividamento, seria necessário um superávit primário de quase quatro pontos percentuais do PIB, esforço considerado “monumental”. Embora o ajuste possa ser escalonado, Srour defende que o próximo governo dê um sinal claro de consolidação já em 2027.

Reformas consideradas inadiáveis

Entre as medidas apontadas como essenciais estão:

  • Revisão da regra que indexa o salário mínimo, cujos reajustes impactam aposentadorias e pensões;
  • Nova reforma da Previdência para conter despesas impulsionadas pelo rápido envelhecimento da população;
  • Desvinculação de gastos mínimos em saúde e educação da receita;
  • Avanço na reforma administrativa, revisão de subsídios tributários e combate a supersalários;
  • Auditoria nos cadastros de programas de transferência de renda.

Regra fiscal sob erosão

Os analistas observam que o governo federal tem excluído despesas – como R$ 40 bilhões em precatórios – dos limites fiscais, o que reduz a eficácia do arcabouço. Além disso, medidas tidas como neutras, a exemplo da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil, geram impacto líquido de 0,1% a 0,2% do PIB sobre a demanda agregada.

Mercados esperam sinal após as urnas

Telo destaca que o ciclo de investimentos de 2026 tende a dividir-se em duas fases: otimismo no primeiro semestre, com cortes de juros no Brasil e nos EUA, e cautela a partir do segundo semestre, quando a credibilidade do plano fiscal pós-eleições será decisiva. Caso não haja solução, o câmbio deverá refletir a perda de confiança e precipitar uma crise.

A taxa de desemprego em 5,4% e a inflação de serviços acima da meta reforçam a pressão sobre o Banco Central, que pode ser obrigado a manter juros elevados se o gasto público não convergir.

Para UBS, portanto, a próxima gestão não terá margem para gradualismo: será preciso um pacote robusto de reformas logo no início do mandato para reverter a trajetória da dívida e restaurar a confiança dos investidores.

Com informações de Gazeta do Povo