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Projeto de hidrelétrica Brasil-Bolívia volta à pauta e levanta dúvidas sobre custos e transparência

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O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende retomar grandes obras hidrelétricas e aposta na construção de uma usina binacional com a Bolívia, na fronteira cortada pelo Rio Madeira. A declaração foi feita pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que no mês passado disse ter discutido o tema com o chefe do Executivo ao defender “uma nova binacional, repetindo o sucesso de Itaipu”.

Especialistas questionam vantagens para o Brasil

Para o engenheiro e economista Erik Duarte Rego, o projeto tem caráter eminentemente político e oferece poucos benefícios técnicos ou econômicos ao lado brasileiro. Segundo ele, fontes alternativas — como eólica, solar e biomassa — alcançam capacidade semelhante a custos menores.

Obra gigantesca, logística complicada

A construção de uma hidrelétrica de grande porte na Amazônia exigiria investimentos elevados, agravados por acesso difícil, longos períodos de chuva e exigências ambientais. As linhas de transmissão são outro entrave: na montagem das usinas de Santo Antônio e Jirau, também no Madeira, o custo para levar a energia ao Centro-Sul quase igualou o valor de uma das usinas.

Além disso, o modelo hoje adotado — fio d’água, que dispensa grandes reservatórios — depende diretamente do regime de chuvas, podendo gerar pouca ou nenhuma eletricidade na seca, o que encarece o megawatt-hora produzido.

Precedente do Gasbol gera cautela

O histórico de cooperação energética entre os dois países aumenta o ceticismo. O Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), iniciado em 1997 e parcialmente operando desde 1999, passou por turbulências. Em 2006, o então presidente Evo Morales nacionalizou o setor de petróleo e gás boliviano e ocupou refinarias da Petrobras. No ano seguinte, um novo acordo elevou em cerca de US$ 100 milhões por ano o preço do gás fornecido ao Brasil; em contrapartida, a Bolívia indenizou a estatal brasileira em US$ 112 milhões.

Quem paga a conta?

Rego avalia que o reservatório ficaria integralmente em território boliviano, cabendo ao Brasil arcar com a maior parte do financiamento e da expertise técnica. Já a advogada Isabela Ramagem, especialista em energia, argumenta que a Bolívia poderia contribuir financeiramente por meio do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) e tecnicamente, citando usinas locais como San José 1 e San José 2.

Para o mercado e para o contribuinte brasileiro, permanece a incerteza: os supostos ganhos estratégicos compensam os riscos econômicos e o histórico de instabilidade política?

Com informações de Gazeta do Povo