Medidas aprovadas pelo Congresso Nacional para reforçar o poder de fogo eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2026 podem deixar o próximo governo diante de um corte de gastos sem precedentes ou da revisão das regras fiscais já em 2027. O alerta é de economistas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) e da Mapfre Investimentos.
Endividamento se aproxima de 84% do PIB
Dados do Banco Central mostram que a dívida bruta saltou de 71,7% do PIB em dezembro de 2022 para 77,5% em julho de 2025. Projeções do Instituto Fiscal Independente (IFI) indicam avanço para 82,4% até o fim de 2026, enquanto a mediana do mercado aponta 84%. Ao mesmo tempo, mais de 90% das despesas primárias seguem obrigatórias, pressionadas por indexações ao salário mínimo e pelo envelhecimento da população.
Gastos avançam, juros se mantêm altos
O pesquisador do FGV Ibre, Samuel Pessôa, calcula que os desembolsos públicos subirão 3% em termos reais em 2026, no pico da campanha presidencial. Para ele, a combinação de política fiscal expansionista e política monetária contracionista cria a imagem de “um carro com um motorista no acelerador e outro no freio”. O resultado imediato são juros reais de 9,5% ao ano — a segunda maior taxa do mundo, atrás apenas da Turquia, segundo a MoneYou.
PEC dos Precatórios posterga despesas
Em setembro de 2025, a promulgação da PEC 66/23 excluiu o pagamento de precatórios do limite de despesas do novo arcabouço fiscal, reduziu os juros dessas dívidas de Selic (15% ao ano) para IPCA mais 2% e tirou esses gastos da meta de resultado primário de 2026. A recomposição ao teto ocorrerá gradualmente, a razão de 10% ao ano, modelo visto por analistas como mero adiamento do problema.
“Kit reeleição” soma R$ 251,9 bilhões
O pacote inclui ampliação do Bolsa Família, aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda e outros incentivos direcionados a famílias de baixa e média renda. Desde o início do terceiro mandato, o governo já aprovou a Emenda Constitucional da Transição, que acrescentou despesas permanentes equivalentes a 1,7% do PIB.
Paralisia reformista
A Mapfre Investimentos não espera avanços significativos em reformas no período eleitoral. A instituição nota que o Brasil combina elevado endividamento com crescimento modesto do PIB, estreitando o espaço para cortes de despesas discricionárias, como investimentos.
Encruzilhada em 2027
Com a dívida rondando 84% do PIB e mais de 90% do orçamento engessado, economistas projetam que o governo que assumir em 1.º de janeiro de 2027 terá de escolher entre cortes profundos em programas sociais e direitos adquiridos ou a flexibilização do arcabouço fiscal — cenário que pode minar a confiança e reacender pressões inflacionárias.
Com informações de Gazeta do Povo