As chinesas BYD e Great Wall Motors (GWM) avançaram rapidamente no mercado automotivo brasileiro e já respondem por 7,2% das vendas de veículos do país em apenas três anos, segundo a Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave).
BYD supera marcas tradicionais e aposta em Camaçari
A BYD alcançou participação de 5,4% nas vendas nacionais em julho, ultrapassando fabricantes como Renault, Nissan e Citroën. A montadora soma 150 mil veículos eletrificados vendidos no Brasil e detém 77% do segmento de carros totalmente elétricos.
Para sustentar o crescimento, a empresa investe R$ 5,5 bilhões na antiga fábrica da Ford em Camaçari (BA), que será sua maior operação fora da Ásia. O local iniciou a instalação de linhas de produção em julho e servirá como base de exportação para todo o continente americano.
No primeiro momento, a produção será no sistema SKD (semi-knocked-down): carrocerias chegam da China soldadas e pintadas, e a montagem final ocorre no Brasil com peças em grande parte importadas. A BYD solicitou redução temporária do Imposto de Importação para esses kits — de 18% para 5% nos elétricos e de 20% para 10% nos híbridos —, pedido que recebeu forte oposição da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e de governadores de seis estados.
O governo federal antecipou para 2027 a tarifa cheia de 35% para os kits, mas concedeu à empresa uma cota de importação de US$ 463 milhões com alíquota zero por seis meses. A montadora fixou a meta de nacionalizar mais de 50% dos componentes até 2027 e trabalha com a Associação Brasileira da Indústria de Autopeças (Abipeças) e o Sindipeças para mapear fornecedores locais.
A logística também é parte da estratégia: navios próprios, como o BYD Shenzhen, já trouxeram mais de 7 mil veículos em uma única operação no porto de Itajaí (SC). Para vencer a desconfiança do consumidor, a marca ampliou a presença em anúncios de TV aberta.
GWM prioriza produção completa e pesquisa local
Com 1,8% de participação de mercado, a GWM supera Peugeot e BMW e tem no Haval H6 o SUV híbrido mais vendido do país. O grupo destinou R$ 10 bilhões ao Brasil até 2032 e inaugurou fábrica em Iracemápolis (SP), na antiga unidade da Mercedes-Benz, com capacidade inicial de 50 mil veículos por ano. Os primeiros modelos serão o próprio Haval H6, a picape Poer P30 e o SUV Haval H9.
Imagem: Thuane Maria
Ao lado da planta industrial, a montadora instalou um centro de pesquisa e desenvolvimento que empregará 60 engenheiros focados em sistemas híbridos, combustíveis de nova geração e inteligência artificial. Em parceria com universidades como a USP, a empresa iniciará testes com seu primeiro caminhão movido a hidrogênio no Brasil.
A GWM estuda a construção de uma segunda fábrica no país, investimento estimado em R$ 6 bilhões, que pode elevar a capacidade total a 300 mil veículos anuais.
Enquanto a BYD aposta em escala global e montagem final rápida, a GWM reforça a integração produtiva local e o desenvolvimento tecnológico. O desenrolar dessas estratégias deve impactar a configuração da indústria automotiva brasileira nos próximos anos.
Com informações de Gazeta do Povo