Brasília – A tentativa de empresários brasileiros de amenizar o “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos esbarrou na crise política provocada pelo julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF).
Representantes de cerca de 130 companhias, reunidos pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), estiveram em Washington no início de setembro para defender seus setores na investigação da Seção 301 conduzida pelo Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR).
Durante audiência pública no USTR, os executivos solicitaram ampliação de exceções tarifárias e evitar novas sanções. Não houve resposta. Segundo participantes da missão, autoridades norte-americanas deixaram claro que qualquer avanço depende do desfecho do processo criminal contra Bolsonaro.
Clima de impasse
Fontes empresariais relatam “perplexidade” com a falta de perspectiva no curto prazo. “O debate está travado. Lula continua provocando e o julgamento segue em andamento. Está tudo interditado”, disse um dirigente que pediu anonimato.
Outro executivo relatou conversa direta em vários órgãos de Washington – Departamentos de Comércio, Tesouro, Estado, USTR e Capitólio – e resumiu o recado recebido: “Se Bolsonaro for condenado, não tem acordo”.
Críticas de Lula e tensão eleitoral
A irritação do setor privado aumentou após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltar a criticar Donald Trump durante reunião virtual do Brics em 8 de setembro. Para parte dos empresários, o Palácio do Planalto prioriza embates políticos em vez de destravar o diálogo com Washington.
Embora haja quem defenda um canal direto entre os governos, executivos relatam receio de se indispor com Brasília. “Qualquer palavra mal colocada pode comprometer ainda mais as negociações”, comentou um representante setorial.
Defesa técnica sem garantia política
Mesmo diante do impasse, setores investigados pela Seção 301 sustentam que apresentaram argumentos sólidos. Segundo o consultor Welber Barral, “os interesses das empresas foram bem defendidos”.
Imagem: André Borges
Para a diretora executiva da Indústria Brasileira do Mobiliário (Abimóvel), Cândida Cervieri, não há indícios de trabalho escravo, infantil ou desmatamento que justifiquem sobretaxas. Os EUA respondem por 30 % das vendas externas de móveis brasileiros, mas a fatia do Brasil no mercado americano é inferior a 1 %.
José Velloso, diretor executivo da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), reconhece a boa defesa técnica, mas afirma que o ambiente “está contaminado pela política”.
Alternativas de mercado
Com as exportações para os EUA recuando 18,5 % em agosto, primeiro mês do tarifaço, empresas buscam novos destinos. A Abimóvel promove feira na Arábia Saudita em parceria com a ApexBrasil, enquanto fabricantes de máquinas analisam reduzir custos, rever logística e acelerar ressarcimentos tributários.
O tarifaço atinge 7 % do faturamento do setor de máquinas; numa pior hipótese, a perda poderia chegar a R$ 23 bilhões e eliminar cerca de 100 mil postos de trabalho diretos e indiretos.
Até que a questão política se resolva, executivos avaliam pressionar clientes norte-americanos a solicitar exceções tarifárias específicas no USTR, estratégia vista como lenta, mas única disponível.
Com informações de Gazeta do Povo