O Banco Central (BC) decretou em 18 de novembro de 2025 a liquidação extrajudicial do Banco Master S.A. e de outras três empresas do conglomerado — Master Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários, Banco Letsbank e Banco Master de Investimento — após constatar fraude estimada em R$ 12 bilhões.
Em nota, o BC mencionou “graves violações às normas” que regem a atividade financeira. Já o Ministério Público Federal (MPF) afirmou que o Master adquiriu carteiras de crédito de uma empresa administrada por um ex-funcionário sem desembolsar recursos e, em seguida, vendeu esses ativos ao Banco de Brasília (BRB), recebendo pagamento imediato. Segundo a investigação, entre julho de 2024 e outubro de 2025, BRB e Master movimentaram R$ 16,7 bilhões, apesar de “ressalvas formuladas pelo Banco Central”.
Classificado na categoria de porte pequeno — 0,57% dos ativos e 0,55% das captações do sistema — o grupo fica impossibilitado de honrar seus Certificados de Depósito Bancário (CDBs), afetando investidores e credores.
Pressão por regras mais rígidas
Especialistas apontam que o episódio revela falhas de governança, gestão de risco e transparência em bancos de médio e pequeno porte, responsáveis por parcela relevante do crédito no país. Para Leonardo Roesler, sócio do RCA Advogados, o caso “tem de ser um divisor de águas” e demanda uma supervisão “mais intrusiva e tempestiva”.
Jorge Ferreira dos Santos, economista da ESPM, avalia que o porte do Master reduz a chance de crise sistêmica, mas não afasta o risco de corrida de clientes para grandes bancos. Já Marília Milani, do CBA Advogados, lembra que a interconexão do sistema financeiro exige mecanismos de contenção, citando o papel do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
FGC amplia cobertura global
No mesmo dia, o FGC divulgou novas diretrizes e elevou o limite global de cobertura de R$ 1 milhão para R$ 1,6 milhão em um período de quatro anos, mantendo o teto individual de R$ 250 mil por CPF ou CNPJ e por conglomerado.
Juros altos sob escrutínio
Patricia Maia, do Barbosa Maia Advogados, observa que o Master oferecia remuneração elevada lastreada em ativos de alto risco. Segundo ela, o BC deverá reforçar a fiscalização sobre produtos com juros muito acima da média.
Carlos Henrique, CEO da Sttart Pay, considera o arcabouço regulatório brasileiro robusto, mas defende maior transparência em operações envolvendo Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) e cessão de crédito.
Fintechs também na mira
Diego Peres, presidente da ABFintechs, prevê um “aperto” na régua regulatória que pode dificultar a obtenção de licenças mais amplas por startups financeiras. Ele menciona limitações orçamentárias e de pessoal no BC que, segundo ele, impactam o ritmo da supervisão.
Para especialistas, o episódio com o Master deverá resultar em controles internos mais estritos, requisitos de capital reforçados e divulgação de informações mais detalhada para instituições de menor porte.
Com informações de Gazeta do Povo