A Fitch Ratings afirmou nesta terça-feira (9) que o novo arcabouço fiscal do governo federal carece de credibilidade e que o Brasil não deverá recuperar o grau de investimento até o fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2026.
A avaliação foi feita por Shelly Shetty, chefe de ratings soberanos da agência para Américas e Ásia, durante evento da Fitch em São Paulo. “Não esperamos que o Brasil volte a conquistar o grau de investimento tão cedo. A credibilidade fiscal volta a ser questionada ano após ano pelo mercado”, declarou a executiva.
O país perdeu o selo de bom pagador em 2015, no governo Dilma Rousseff. Embora, em média, as nações levem cerca de seis anos para retomar essa classificação, a Fitch considera que o Brasil ainda está distante desse objetivo.
Projeções de crescimento divergentes
Shetty também apontou diferença relevante entre as estimativas de expansão econômica para 2026. Enquanto o governo trabalha com alta de 2,4%, a Fitch projeta avanço de 1,9%. Parte do otimismo oficial, segundo a analista, depende da aprovação de novos aumentos de impostos no Congresso para cumprir metas fiscais — ponto visto pela agência como arriscado por depender de receitas extraordinárias.
Desafios para as contas públicas
Na visão da Fitch, os gastos do setor público já são elevados e continuarão crescendo nos próximos anos, fator que pesa sobre o perfil de crédito do país. A agência destaca ainda dois riscos estruturais para a trajetória da dívida:
- Carga tributária alta: patamar já elevado dificulta novas fontes de arrecadação sem afetar a atividade econômica;
- Rigidez orçamentária: grande parcela de despesas obrigatórias reduz o espaço para investimentos e cortes de gasto.
Essa combinação, segundo Shetty, aumenta a incerteza sobre a capacidade de o governo controlar o avanço da dívida.
Imagem: José Méndez
Evolução das notas de crédito
Em julho de 2023, a Fitch elevou o rating soberano brasileiro, deixando-o dois degraus abaixo do grau de investimento e atribuindo perspectiva estável — sinal de que não há mudança iminente. A S&P fez movimento semelhante em dezembro de 2023, passando a nota de três para dois níveis abaixo do selo de bom pagador e mantendo-a no início deste mês. Já no fim de maio, a Moody’s alterou a perspectiva sobre o Brasil de positiva para estável; como o rating do país está a um nível do grau de investimento, a decisão eliminou a chance de conquista do selo até o término do atual governo.
Com a credibilidade do arcabouço fiscal sob questionamento e perspectivas modestas de crescimento, a Fitch indica que o retorno do Brasil ao grau de investimento permanece fora do horizonte próximo.
Com informações de Gazeta do Povo