A retirada, pelo governo dos Estados Unidos, da tarifa de 50% que incidia sobre 249 produtos agrícolas brasileiros — entre eles café em grão e carne bovina — tende a reforçar a balança comercial do Brasil, mas deve provocar apenas reflexo limitado e não imediato nos preços domésticos, avaliam economistas e entidades do setor.
Alívio cambial sem pressão inflacionária relevante
O anúncio foi feito em 20 de novembro de 2025 pelo presidente norte-americano Donald Trump. Com a reabertura do mercado americano, analistas projetam maior entrada de dólares e, consequentemente, algum alívio na taxa de câmbio. Ainda assim, o efeito sobre o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve ser pequeno.
Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, manteve sua estimativa de IPCA em 4,3% para 2025 e 4,5% para 2026. Segundo ela, o fim da tarifa reduz a pressão de baixa sobre a arroba do boi, mas não altera o quadro inflacionário previsto.
Na mesma linha, a XP Investimentos calcula incremento de aproximadamente US$ 700 milhões na balança comercial de 2025 e repete projeção de inflação em 4,5% para 2026. A economista Luíza Pinese explica que o cenário da corretora já considerava algum acordo tarifário para o próximo ano.
Mercado interno absorve exportações redirecionadas
Durante a vigência do tarifaço, boa parte das vendas de café e carne foi desviada para outros destinos, evitando excesso de oferta no mercado brasileiro. Para André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getulio Vargas (FGV), a recomposição das exportações aos EUA será gradual, sem pressão imediata sobre os preços locais. “Navios não serão carregados da noite para o dia”, afirma. Ele prevê possíveis ajustes apenas a partir de meados de 2026.
Setor produtivo comemora decisão
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) classificou a revogação das tarifas como sinal de estabilidade no comércio internacional. Já o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) celebrou a “vitória histórica” e estimou que a manutenção da sobretaxa poderia custar até US$ 3 bilhões anuais ao setor.
O presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, lembra que, nos últimos três meses, as remessas de café brasileiro aos EUA recuaram 50%. Ele acrescenta que o café solúvel ficou fora da lista de isenções e continuará sendo negociado com Washington para também obter alíquota zero. “Para cada emprego gerado pelo café em grão, três ou quatro vêm do solúvel”, pontua.
Apesar do otimismo dos exportadores, analistas reforçam que o consumidor brasileiro não deve sentir alta expressiva no curto prazo. O principal efeito imediato será a melhora no fluxo cambial, enquanto a formação de preços internos dependerá da velocidade de retomada dos embarques.
Com informações de Gazeta do Povo