Cuiabá (MT), 30/10/2025 – O presidente da Associação Nacional dos Departamentos Estaduais de Agricultura dos Estados Unidos (Nasda), Ted McKinney, afirmou nesta quinta-feira (30) que a aplicação de sobretaxas sobre importações é utilizada por Washington apenas quando “tudo mais falha” na busca por um comércio considerado justo.
“O nirvana seria não termos tarifas. Entretanto, quando países como Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Argentina e Brasil tentam repetidamente alcançar reciprocidade sem avanços, é preciso rever as regras”, declarou o ex-subsecretário de Agricultura do governo Donald Trump (2017-2021), durante painel no Congresso Mundial da Carne (WMC), realizado pela primeira vez na América do Sul, em Cuiabá.
Tarifas como ferramenta temporária
McKinney disse não acreditar que as sobretaxas precisem durar “anos ou décadas”. Segundo ele, o mecanismo serve para pressionar parceiros a remover barreiras “claramente injustas” e pode ser reavaliado assim que a reciprocidade for alcançada. Ele citou barreiras não tarifárias, uso seletivo de critérios científicos e regulamentos ambientais como exemplos de entraves ao fluxo de mercadorias.
O dirigente classificou o novo Regulamento de Produtos Livres de Desmatamento da União Europeia (EUDR) como “exagero de interferência” em questões soberanas. “Nos Estados Unidos temos saldo positivo de reflorestamento e, ainda assim, não estamos isentos dessa política”, criticou.
Críticas de especialistas
A defesa do “comércio justo” foi contestada durante o evento. O professor Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global, lembrou que os EUA historicamente pregavam o livre comércio. “Agora falam em fair trade. Mas justo para quem?”, questionou.
John Clarke, ex-diretor de Relações Internacionais da Comissão Europeia, avaliou ser perigoso abrir precedente para discutir o que é ou não justo. “Se outro país tem custos trabalhistas menores ou solo mais fértil e, por isso, oferece preços mais baixos, isso continua sendo comércio legítimo”, argumentou.
No mesmo sentido, o presidente da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte da CNA, Francisco de Castro, defendeu menor intervenção estatal. Já o presidente do Secretariado Internacional da Carne (IMS), Juan José Grigera Naón, declarou ser “muito difícil” considerar tarifas justas, a menos que haja reciprocidade clara.
Etanol no centro da disputa com o Brasil
Perguntado sobre a tarifa de 50% aplicada por Washington contra alguns produtos brasileiros, McKinney apontou “práticas desleais” do Brasil no mercado de etanol. “A carne bovina brasileira entra praticamente livre nos EUA. Pedimos acesso ao mercado brasileiro para o etanol de milho, mas não obtivemos. Você diria que isso é justo? Claramente não”, afirmou.
Segundo ele, após tentativas de diálogo via visitas técnicas e reuniões bilaterais, o governo norte-americano optou pelas tarifas. “Às vezes outras medidas tornam-se necessárias”, completou.
Temor de avanço chinês
O dirigente defendeu uma maior integração entre países do Hemisfério Ocidental e manifestou preocupação com o “grande interesse” da China na América do Sul. Para McKinney, a recente reunião entre os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, em 26 de outubro, foi “gesto importante” para fortalecer laços bilaterais.
O Congresso Mundial da Carne ocorre a cada dois anos sob organização do IMS. Nesta edição, o evento conta com parceria do Instituto Mato-grossense da Carne (Imac) e debate tendências, inovação e sustentabilidade na cadeia de proteína animal.
McKinney concluiu que, embora as tarifas sejam um instrumento “duro”, continuarão na mesa enquanto persistirem barreiras consideradas desequilibradas pelos Estados Unidos.
Com informações de Gazeta do Povo