Sob risco de ter o contrato de concessão rompido e pressionada por sucessivos apagões, a Enel declarou nesta segunda-feira (22) que pretende investir no enterramento em larga escala da rede elétrica na Região Metropolitana de São Paulo. A medida é apontada pela distribuidora como saída estrutural para reduzir as interrupções de energia provocadas por tempestades.
A sinalização ocorre poucos dias depois de uma ventania considerada recorde deixar 2,3 milhões de imóveis sem luz, episódio que unificou críticas dos governos municipal, estadual e federal contra a empresa. Segundo a Enel, os ventos chegaram a quase 100 km/h e derrubaram centenas de árvores, mobilizando cerca de 1,8 mil equipes em uma área que reúne 18 milhões de moradores.
Em nota, a companhia afirmou estar “disposta a realizar investimentos maciços em redes resilientes e digitalizadas, incluindo a implantação em grande escala de cabos subterrâneos”, mas cobrou participação das três esferas de governo para viabilizar o projeto.
Rede aérea domina a capital
A cidade de São Paulo possui mais de 20 mil quilômetros de fiação elétrica, dos quais menos de 1% encontra-se no subsolo. O programa municipal SP Sem Fios, lançado em 2017, enterrou apenas 46,5 km até agora, distante da meta de 65,2 km prometida pela gestão Ricardo Nunes (MDB) para 2024.
Histórico de quedas acelera pressão
O apagão de 10 de dezembro foi classificado como reincidência após blecautes registrados em 2024 e 2025, ampliando a insatisfação popular. Em meio às críticas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atribuiu ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) a responsabilidade de fiscalizar a distribuidora.
A Enel, por sua vez, sustenta que já solucionou todos os problemas e afirma cumprir os indicadores de qualidade previstos no contrato, evidenciados por fiscalizações recentes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A empresa reforçou “confiança no sistema jurídico e regulatório brasileiro” para garantir estabilidade aos investidores.
Plano de R$ 10,4 bilhões até 2027
Responsável pela distribuição desde 2018, a companhia informa ter aplicado “investimentos recordes” na modernização da rede e prevê destinar R$ 10,4 bilhões entre este ano e 2027, incluindo ações de manutenção preventiva e aumento do número de podas de árvores.
O anúncio sobre o enterramento da fiação ainda não traz detalhes de cronograma ou de divisão de custos, mas surge como resposta à ameaça de intervenção ou de rescisão contratual em discussão na Aneel e no governo paulista.
Com informações de Gazeta do Povo