Em meio ao clima de incerteza econômica no Brasil, cresce o interesse de investidores pela dolarização do patrimônio — prática que consiste em transferir parte dos ativos para o exterior como forma de blindar o poder de compra.
Como funciona a estratégia
O processo, que pode envolver a constituição de uma holding familiar, começa pela abertura de conta em instituição financeira no exterior, geralmente nos Estados Unidos ou na Europa. Há ainda quem escolha paraísos fiscais em busca de vantagens tributárias.
Para enviar recursos, o investidor precisa realizar um fechamento de câmbio em banco ou corretora autorizada pelo Banco Central. O dinheiro segue obrigatoriamente para conta de mesma titularidade fora do país. A origem dos fundos deve ser comprovada, já que as transferências passam por rígidos controles de combate à lavagem de dinheiro, semelhantes aos adotados no mercado brasileiro.
Vantagens apontadas por especialistas
Segundo o economista especializado em câmbio Reginaldo Galhardo, a medida funciona como “porto seguro” para quem deseja preservar capital em moedas mais estáveis. Ao manter recursos dolarizados, o investidor se protege de desvalorizações do real e de oscilações inflacionárias domésticas.
Principais riscos
Apesar da proteção cambial, a estratégia envolve custos e incertezas:
- IOF de 1,1% incide sobre cada remessa ao exterior;
- Volatilidade do câmbio pode corroer ganhos caso o dinheiro seja repatriado em momento desfavorável;
- Risco dos ativos: ações ou fundos podem perder valor por fatores políticos ou fiscais no país investido.
Para reduzir essas ameaças, muitos optam por títulos soberanos, como os do Tesouro norte-americano, e diversificam entre renda fixa, ações e ouro.
Regras de tributação
Dolarizar não livra o contribuinte das obrigações fiscais brasileiras. Rendimentos no exterior pagam 15% de Imposto de Renda e devem constar na declaração anual, nas fichas “Bens e Direitos” e “Rendimentos Tributáveis Recebidos do Exterior”.
Patrimônio igual ou superior a US$ 1 milhão exige também o envio da Declaração de Capitais Brasileiros no Exterior (CBE). Omissões ou informações incorretas estão sujeitas a multas.
Com a possibilidade de intensificação da crise interna, a dolarização segue na pauta de quem busca estabilidade além-fronteiras, ainda que demande planejamento, custo e disciplina fiscal.
Com informações de Gazeta do Povo