São Paulo – Há dez anos, em junho de 2015, morria Olacyr de Moraes, empresário que levou a soja ao Cerrado, comandou um conglomerado de 40 empresas e terminou a vida devendo cerca de US$ 1 bilhão. Nascido em 1931, em Itápolis (SP), filho de imigrantes libaneses, ele saiu da venda de máquinas de costura que ajudava a tocar com o pai para se tornar o primeiro brasileiro na lista de bilionários da revista Forbes.
Da construção civil ao agronegócio
Aos 19 anos, em 1950, Olacyr, o pai e o irmão criaram um negócio de transporte de pedras para pavimentação em São Paulo. O passo seguinte foi a fundação da Constran, em 1957, na esteira do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek. Contratos para rodovias, hidrelétricas e o Metrô paulistano impulsionaram a empreiteira durante o regime militar e o “milagre econômico”.
Com o caixa reforçado, o empresário diversificou. Em 1966, participou da criação da Orpeca S.A., dedicada à pecuária no norte de Mato Grosso, atraída pelos incentivos da Sudam. Sete anos depois, surfando na disparada mundial do preço da soja provocada pela inundação do Rio Mississippi, comprou 50 mil hectares no então Mato Grosso unificado e levou máquinas, sementes norte-americanas e engenheiros para a região.
Pesquisa, vilas e pioneirismo
Nas fazendas Itamarati e, depois, Itamarati Norte (110 mil ha, em Diamantino-MT), Olacyr financiou estudos com a Embrapa e universidades. O local recebeu 10 mil experimentos, como o desenvolvimento do algodão ITA-90, que ajudou o Brasil a se tornar exportador da fibra. Colaboradores passaram a viver em vilas com escola, igreja, asfalto e pistas de pouso.
No auge, na década de 1980, ele era o maior produtor individual de soja do planeta, presidiu parte da companhia aérea Transbrasil e reuniu fortuna de US$ 1,2 bilhão. Foi então que ganhou o apelido de “Rei da Soja”.
O projeto ferroviário que virou tormento
O caminho da prosperidade começou a mudar com a Ferronorte, planejada para ligar o Cerrado ao Porto de Santos (SP) e baixar o custo do frete. A iniciativa, lançada ainda no governo Fernando Collor, exigiu investimentos elevados e dependia de aval público. A instabilidade econômica dos anos 1990 estourou o orçamento do grupo.
Para cobrir débitos, o empresário vendeu o Banco Itamarati em 1996, se desfez de fazendas, aviões e imóveis e viu credores formarem associação em São Paulo. Em 2002, a Itamarati Norte foi arrendada pela Amaggi; dois anos depois, a fazenda Itamarati virou o maior assentamento do país, comprado pelo Incra e repassado a 17 mil famílias. A participação na Ferronorte acabou nas mãos da América Latina Logística, depois incorporada pela Rumo.
Problemas familiares e última aposta
No plano pessoal, o rompimento com o filho Marcos de Moraes – que vendeu o portal Zip.net e o serviço de e-mail Zipmail à Portugal Telecom por US$ 365 milhões, em 2000 – agravou a crise. Mesmo falido, Olacyr investiu na mineração com a Itaoeste, criada em 2002, que em 2011 anunciou jazidas de tálio em Barreiras (BA). A exploração, porém, nunca foi autorizada.
Em abril de 2014, seu motorista matou o ex-senador boliviano Andres Fermin Guzmán, diretor internacional da Itaoeste, alegando chantagem contra o empresário. Guzmán carregava R$ 400 mil, valor que Olacyr afirmou ter emprestado.
Morte, dívidas e legado
Diagnosticado com câncer de pâncreas, Olacyr de Moraes morreu em 16 de junho de 2015, aos 84 anos, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, após retirar parte do estômago, intestino e pâncreas. Foi cremado em cerimônia restrita. Deixou débitos estimados em US$ 1 bilhão, mas também as bases para o avanço agrícola que fez o Brasil liderar a produção e exportação de soja.
Em 2018, a Amaggi comprou toda a Companhia Agrícola do Parecis, administradora das antigas fazendas do empresário, por US$ 330 milhões. No ano seguinte, a CVCIB Holdings assumiu a Usinas Itamarati. Para a safra 2024/2025, a Conab calcula 169 milhões de toneladas de soja – quase um terço vinda de Mato Grosso – enquanto CNA e Cepea projetam que o agronegócio responderá por 29,4% do PIB brasileiro em 2025, reflexo, em parte, da semente plantada pelo “Rei da Soja”.
Com informações de Gazeta do Povo