Home / Economia / Déficit recorde de R$ 4,4 bilhões faz Correios depender de aporte federal para manter operações

Déficit recorde de R$ 4,4 bilhões faz Correios depender de aporte federal para manter operações

ocrente 1758292349
Spread the love

Brasília – O prejuízo de R$ 4,4 bilhões acumulado pelos Correios no primeiro semestre de 2025, já superior ao rombo de todo o ano anterior (R$ 2,6 bilhões), colocou a estatal à beira de um socorro financeiro do governo. Caso o ritmo de perdas se mantenha, o déficit pode chegar a R$ 8 bilhões até dezembro, exigindo aportes estimados em R$ 20 bilhões para cobrir despesas básicas, como salários.

A situação foi detalhada no balanço semestral divulgado pela empresa. A receita caiu 9,5% em comparação com igual período de 2024, somando R$ 8,9 bilhões, enquanto as despesas administrativas e financeiras subiram para R$ 13,4 bilhões.

Governo acompanha “com preocupação”

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, evitou confirmar repasses, mas reconheceu na terça-feira (16) que o quadro exige atenção imediata. “Estamos acompanhando, junto com o Ministério da Gestão e Inovação e a Casa Civil, o desenlace dessa questão que precisa ser enfrentada rapidamente”, afirmou.

TCU investigará contas da estatal

No Senado, o líder do PP, Ciro Nogueira (PI), apresentou requerimento aprovado pela Comissão de Transparência pedindo auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) nas contas dos Correios e do Postalis, fundo de pensão dos empregados. O ministro Bruno Dantas foi designado relator. A empresa declarou que vem disponibilizando “de forma aberta e clara” todas as informações econômico-financeiras.

Quatro anos seguidos de perdas

Depois de cinco exercícios com resultados positivos, os Correios acumulam o quarto ano consecutivo no vermelho. Desde 2024 o risco de insolvência aumentou, com notificações de despejo de imóveis alugados, atrasos a fornecedores e inadimplência no plano de saúde dos funcionários.

Entre as justificativas apontadas pela diretoria estão a queda de importações atribuída à chamada “taxa das blusinhas”, aportes adicionais no Postalis e decisões judiciais que elevaram gastos. Apenas no primeiro trimestre de 2025, precatórios e Requisições de Pequeno Valor (RPVs) totalizaram R$ 389 milhões, ante R$ 133 milhões um ano antes.

Mudança no comando

O agravamento financeiro levou o presidente Fabiano Silva dos Santos a pedir demissão em julho. Ele permaneceu interinamente até a nomeação, também na terça-feira (16), de Emmanoel Schmidt Rondon, funcionário de carreira do Banco do Brasil. Segundo a estatal, o novo dirigente dará sequência ao Programa de Recuperação e Modernização, que inclui investimentos em tecnologia, infraestrutura, automação e renovação de frota.

Perda de mercado acelera

Especialistas consultados apontam que a estatal perdeu competitividade no segmento de encomendas, onde não possui monopólio. Relatório da Mordor Intelligence mostra que a participação de receita dos Correios caiu de 54% em 2019 para 38,51% em 2022, enquanto as seis maiores transportadoras do país já respondem por 71% do volume embarcado.

Empresas de comércio eletrônico, como Mercado Livre, Shopee, Shein e Magalu, têm ampliado redes próprias ou contratado transportadoras regionais. No caso do Mercado Livre, os Correios hoje respondem por apenas 5% das entregas.

Analistas avaliam que a modernização exigirá investimentos robustos em tecnologia de rastreamento, automação de armazéns e velocidade de entrega, áreas onde concorrentes nacionais e estrangeiros avançaram nos últimos anos.

Com informações de Gazeta do Povo