O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central encerra na quarta-feira (5) sua reunião bimestral com forte sinalização de que a taxa básica de juros permanecerá em 15% ao ano.
A perspectiva de estabilidade decorre da inflação acima da meta e do quadro fiscal considerado frágil. Segundo o Boletim Focus divulgado na segunda-feira (3), o mercado projeta IPCA de 4,55% para 2025 e 4,20% para 2026, ambos superiores ao centro da meta de 3% definida pelo Conselho Monetário Nacional.
Inflação persistente e trabalho aquecido
Nos 12 meses até setembro, a inflação acumulada alcançou 4,59%, superando o limite superior da meta de 4,5%. Núcleos de inflação elevados e expectativas desancoradas mantêm a autoridade monetária em alerta.
O mercado de trabalho também pressiona preços. A taxa de desemprego caiu para 5,6% em setembro, patamar historicamente baixo que sustenta a demanda das famílias e dificulta a convergência da inflação.
Juros futuros refletem cautela
No mercado de Depósitos Interfinanceiros (DIs), as taxas projetadas para janeiro de 2026 giram em torno de 14,89%, indicando que os agentes já precificam uma política monetária restritiva por um período prolongado.
Para o Itaú, a combinação de expectativas desancoradas e resiliência econômica recomenda pausa nos cortes, pois os efeitos da política monetária costumam aparecer com defasagem.
Risco fiscal limita espaço para afrouxamento
A ausência de superávit primário sustentado e a possibilidade de flexibilização das regras fiscais elevam o prêmio exigido pelos investidores. O Rabobank prevê dívida bruta em 81,4% do PIB ao fim de 2025.
“Quando o governo gasta mais do que arrecada, precisa se financiar pagando a taxa básica de 15%; isso puxa todo o restante dos juros”, explica Gilmar Mendes, da Fundação Dom Cabral.
Cenário externo e cortes apenas em 2026
Mesmo com fluxo positivo de capitais e preços firmes das commodities, riscos como a política monetária dos Estados Unidos e a desaceleração chinesa seguem no radar. Analistas estimam que as primeiras reduções da Selic ocorram apenas no segundo semestre de 2026, condicionadas à melhora consistente dos indicadores fiscais e inflacionários.
Até lá, a estratégia do Banco Central é preservar a credibilidade do regime de metas, garantindo que as expectativas retornem ao alvo antes de iniciar qualquer flexibilização monetária.
Com informações de Gazeta do Povo