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CGU vê manobra dos Correios que reduz passivo trabalhista de R$ 1 bilhão para R$ 18

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Brasília, 23 de dezembro de 2025 – A Controladoria-Geral da União (CGU) identificou indícios de ajuste contábil nos balanços da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) que baixou um passivo trabalhista estimado em mais de R$ 1 bilhão para apenas R$ 18.

Segundo relatório técnico obtido pela reportagem, a estatal registrou valor simbólico de R$ 1 em 18 ações coletivas, apesar de decisões judiciais que reconhecem pagamentos devidos a empregados e sindicatos. A prática, de acordo com os auditores, fere normas contábeis brasileiras (CPC 25 e CPC 00) e compromete a fidedignidade das demonstrações financeiras.

A redução decorreu de entendimento jurídico interno que autorizou a “compensação” entre o Adicional de Atividade de Distribuição e Coleta (AADC) e o Adicional de Periculosidade (AP) pagos a carteiros motorizados. Para a empresa, eventual anulação de um dos adicionais geraria créditos suficientes para neutralizar a dívida.

A CGU contesta o procedimento, apontando que a compensação entre ações diferentes, ainda sem trânsito em julgado, não encontra respaldo técnico nem jurídico. Os auditores afirmam não haver comprovação de crédito líquido e certo que justifique a baixa do passivo.

Riscos e recomendações

Atualmente, os Correios mantêm R$ 2,7 bilhões provisionados para processos judiciais e outros R$ 4,8 bilhões classificados como passivos contingentes, com risco de perda “possível”. Caso as decisões sejam executadas, o impacto pode comprometer ainda mais as contas da estatal, que acumula prejuízo recorde de R$ 6,1 bilhões até setembro.

Entre as recomendações, a CGU exige:

  • reapresentação das demonstrações financeiras com a provisão original de R$ 1 bilhão;
  • revisão individualizada dos cálculos de créditos e débitos de cada empregado;
  • modernização de sistemas e reforço na governança jurídica.

A empresa tem até 180 dias para ajustar os registros. Em nota enviada à CGU, os Correios alegaram que os lançamentos foram respaldados por pareceres internos e aprovados por conselhos da estatal. Mesmo assim, o órgão de controle manteve as conclusões e alertou para o risco de grande impacto financeiro se a correção não for feita.

A reportagem solicitou posicionamento da ECT sobre os critérios de contabilização e eventuais revisões nos balanços. Até o fechamento desta edição, não houve resposta.

Com informações de Gazeta do Povo