Brasília – A ofensiva tarifária do presidente norte-americano Donald Trump contra a China consolidou o Brasil como principal fornecedor de soja ao gigante asiático e reduziu drasticamente a participação dos Estados Unidos nesse mercado.
Brasil amplia vantagem na China
Dados da Administração Geral das Alfândegas chinesa mostram que, em 2024, o país de Xi Jinping respondeu por 61,1% de todas as importações mundiais de soja. Do total comprado – 105 milhões de toneladas –, 71,1% partiram do Brasil e 22% dos EUA. Argentina e Uruguai ocuparam a terceira e a quarta posições, com 4,1 milhões (3,9%) e 2,02 milhões (1,9%) de toneladas, respectivamente.
Até 2012, os americanos lideravam as vendas ao mercado chinês. O Brasil ultrapassou os EUA em 2013, mas a diferença permaneceu apertada até 2016, quando os brasileiros responderam por 45,7% das compras da China e os norte-americanos, por 40,4%.
Tarifas mudam o jogo
A virada ocorreu após Trump assumir a Casa Branca, em 2017, defendendo tarifas sobre produtos estrangeiros. Naquele ano, a fatia brasileira subiu para 53,3%, enquanto a americana recuou para 34,4%.
Em 2018, a primeira rodada de tarifas dos EUA contra produtos chineses foi retaliada por Pequim, que sobretaxou a soja americana. Resultado: participação brasileira saltou para 75,1%, e a dos EUA caiu para 18,9%.
Um acordo comercial de “Fase Um” foi assinado em janeiro de 2020, prevendo compras adicionais de US$ 40 bilhões anuais de soja norte-americana por dois anos. Entre 2020 e 2022, porém, a China cumpriu apenas 73% da meta, mantendo preferência pelo grão brasileiro, mais competitivo.
Nova guerra tarifária em 2025
No início de 2025, Trump retomou as sanções e Pequim impôs tarifa de 20% sobre a soja dos EUA. Após compras pontuais até maio, a China deixou de importar “um grão sequer” dos produtores americanos, substituindo a oferta por Brasil e, em menor escala, Argentina.
Registros do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) apontam forte incremento de embarques brasileiros:
- Julho: 9,6 milhões de toneladas (+7,4% ante julho/2024)
- Agosto: 7,9 milhões de toneladas (+33,9%)
- Setembro: 6,8 milhões de toneladas (+57,1%)
Em setembro, 92,3% de toda a soja exportada pelo Brasil teve a China como destino; no mesmo mês de 2024, essa fatia era de 70,6%.
Com a aplicação, pelos EUA, de tarifa adicional de 100% sobre produtos chineses, analistas preveem novos recordes nas exportações brasileiras nos próximos meses.
Produtores americanos reclamam
A Associação Americana de Soja (ASA) manifestou reiteradamente oposição ao uso de tarifas. Em agosto, Trump pediu publicamente que a China quadruplicasse as compras de soja dos EUA, sem sucesso. Dias depois, a ASA enviou carta à Casa Branca pedindo prioridade para a cultura nas negociações bilaterais.
O descontentamento aumentou quando Washington anunciou ajuda financeira de US$ 20 bilhões à Argentina, que zerou impostos de exportação de soja, farelo, óleo, milho e trigo até 31 de outubro, atraindo compradores chineses.
Trump prometeu socorro de US$ 10 bilhões a US$ 14 bilhões aos agricultores americanos, mas a consultoria AgResource estima que o repasse só chegará em 2026 devido ao shutdown do governo.
Em coletiva na Casa Branca, o presidente disse acreditar que a China “abrirá mais espaço” para a soja dos EUA, embora, no mesmo dia, tenha confirmado a tarifa de 100% e admitido o possível cancelamento de um encontro com Xi. A ASA declarou estar “extremamente desapontada”.
Com informações de Gazeta do Povo