Brasília – O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos (PSOL-SP), reconheceu que a esquerda “errou muitas vezes” ao propor regulamentação para motoristas e entregadores de plataformas digitais sem ouvir a categoria. A autocrítica foi feita em entrevista publicada nesta terça-feira (4), no jornal O Globo.
Desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o governo tenta aprovar diretrizes mínimas para o setor, entre elas remuneração de R$ 32,09 por hora, garantia de rendimento mensal equivalente a um salário mínimo e contribuição de 7,5% ao INSS. O texto perdeu apoio após críticas de trabalhadores, que consideram o modelo distante da realidade do serviço por aplicativo.
“Poucas vezes se parou para ouvir o que eles querem”, afirmou Boulos. Apesar do gesto, auxiliares do Planalto avaliam que dificilmente haverá mudanças substanciais, pois a proposta já está em fase final na Câmara dos Deputados.
Resistência tripla
A negociação é conduzida pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que enfrenta resistência de empresas, motoristas e entregadores. O relator, deputado Augusto Coutinho (Republicanos-PE), informou que a última audiência pública ocorrerá em 11 de novembro e que pretende levar o parecer ao plenário ainda este ano. “Não entendi qual é essa missão do Boulos no governo e o que vai mudar”, disse o parlamentar.
Agenda com entregadores
No primeiro dia após a posse, Boulos recebeu lideranças no Palácio do Planalto e almoçou com representantes de entregadores nos dias seguintes. O grupo entregou carta que pede isenção de impostos para compra de veículos e linhas de crédito semelhantes às oferecidas a taxistas. “Somos gatos escaldados”, declarou Nicolas Souza Santos, da Aliança Nacional dos Entregadores, ao lembrar que conversas anteriores “não avançaram”.
Crescimento do setor
Dados do IBGE apontam que o número de motoristas e entregadores saltou 25,4% desde 2022, chegando a 1,7 milhão em 2024. Mais da metade atua no transporte de passageiros, enquanto 29,3% trabalham em entregas de comida e produtos.
Dentro do governo, a entrada de Boulos é vista como tentativa de reduzir a resistência de um grupo hoje majoritariamente crítico ao Planalto, mas interlocutores reconhecem que a regulamentação permanece como um dos temas mais sensíveis da administração.
Com informações de Gazeta do Povo