A economia brasileira entrou em ritmo mais lento após um início de ano forte. Projeções de bancos e consultorias indicam que o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter crescido entre 0,2% e 0,5% no segundo trimestre de 2025 em relação aos três meses anteriores. O resultado, que será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na terça-feira (2), reflete o impacto prolongado da Selic em 15% ao ano e a adoção, em julho, de tarifas norte-americanas sobre produtos brasileiros.
Perda de fôlego atinge quase todos os setores
A desaceleração é ampla. A indústria de transformação caminha para o segundo trimestre consecutivo de retração, com queda interanual estimada em 0,6% pelo Itaú. Em sentido oposto, a indústria extrativa, impulsionada pelo petróleo, deve ter avançado 4,3%, segundo a XP Investimentos.
Nos serviços, responsáveis por mais de 70% do PIB, ainda há crescimento, mas com sinais de cansaço. A agropecuária, que puxou a atividade no início do ano, volta a taxas mais próximas da média, embora deva registrar expansão anual robusta de 9,8%, conforme cálculos do Itaú.
Consumo e investimento sentem o peso dos juros
Mesmo com o desemprego em 5,8% e a renda em alta, o consumo das famílias perdeu velocidade, sobretudo na compra de itens dependentes de crédito, como veículos e eletrodomésticos. O aperto monetário atinge com força também os investimentos: após crescerem 9,1% entre janeiro e março, devem mostrar forte desaceleração. O Monitor do PIB, da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), prevê queda da taxa de investimento de 19,3% para 18,7% do PIB.
Para Juliana Trece, coordenadora do Monitor do PIB, o esfriamento decorre do fim do impulso extraordinário da agropecuária e do intervalo usual até que os juros altos afetem plenamente a atividade.
Cenário externo limita cortes na Selic
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve lida com inflação persistente e sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho. A inflação ao produtor subiu 0,9% em julho, e o núcleo do índice de preços de despesas de consumo pessoal (PCE) deve aumentar 0,4% ao mês. A expectativa é de um primeiro corte de 0,25 ponto percentual nos juros apenas em setembro, o que prolonga taxas elevadas no país.

Imagem: Gabriel Rosa
Juros mais altos lá fora reduzem o espaço para o Banco Central brasileiro aliviar a Selic. O Comitê de Política Monetária (Copom) tende a mantê-la em 15% nas próximas reuniões, com discussões sobre cortes ganhando força apenas no último trimestre de 2025.
Risco fiscal volta ao centro das atenções
Além dos juros, o ambiente fiscal pressiona a economia. O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2026 projeta déficit primário de R$ 30,9 bilhões. O Banco Inter calcula que o resultado negativo pode chegar a 0,7% do PIB mesmo com aumento de arrecadação. Para a economista-chefe da instituição, Rafaela Vitória, a combinação de déficit elevado e inflação esperada de 3,6% em 2027 deve manter a política monetária cautelosa por um período prolongado.
Com crescimento modesto, juros altos e contas públicas deterioradas, o governo dispõe de pouca margem para usar o orçamento a favor da atividade, mantendo a economia em um cenário de avanço contido nos próximos meses.
Com informações de Gazeta do Povo