Brasília – A taxa Selic deve permanecer em 15% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que termina nesta quarta-feira (17), sinalizando que empresas e famílias seguirão pagando juros elevados até, pelo menos, 2026.
Juros finais ultrapassam 50% ao ano para pessoas físicas
Em julho, o juro médio cobrado de consumidores em operações com recursos livres chegou a 57,7% ao ano. Para as empresas, a média foi de 25% ao ano, de acordo com dados do Banco Central.
Por que o custo do dinheiro continua tão alto?
Especialistas apontam três motivos principais:
1. Pressão inflacionária e expectativas – O IPCA acumulou 5,13% em 12 meses até agosto, distante do teto da meta de 4,5%. O Boletim Focus projeta inflação de 4,83% em 2025, ainda próxima do limite superior de 3% ± 1,5 ponto percentual.
2. Volatilidade externa e risco-país – Tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos derrubaram em 18,5% as exportações brasileiras ao mercado norte-americano em agosto. A possibilidade de aplicação da Lei Magnitsky a instituições financeiras locais e a estimativa do Bradesco para o dólar em R$ 5,50 aumentam os prêmios de risco.
3. Custos do crédito e spreads bancários – Sobre a Selic incidem despesas operacionais, exigências regulatórias e margens de lucro dos bancos. Com 7,8 milhões de empresas e 78,2 milhões de consumidores inadimplentes, o risco de calote pressiona ainda mais as taxas.
Quando a Selic deve começar a cair?
Projeções de mercado indicam que o ciclo de cortes só teria início em janeiro de 2026, caso as expectativas de inflação se alinhem à meta e o Produto Interno Bruto (PIB) mostre desaceleração mais forte.
Para o planejador financeiro Diego Endrigo, o consumidor só deve sentir alívio expressivo em 2026. Já Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez, vê cenário favorável às famílias e empresas apenas em 2027, se houver avanço nas reformas e redução do risco fiscal.
Impacto na economia real
Com juros elevados, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) projeta alta de apenas 2,3% no consumo das famílias em 2025, bem abaixo dos 4,8% verificados em 2024. Entre as empresas, 4.965 pedidos de recuperação judicial foram registrados no primeiro semestre de 2025, recorde histórico.
Apesar disso, o mercado de trabalho segue aquecido: a taxa de desemprego caiu para 5,6% em julho, a menor da série, e pode recuar a cerca de 5% no último trimestre, segundo a G5 Partners. Ainda assim, economistas alertam que a melhora nas contas públicas é condição essencial para uma trajetória sustentada de queda dos juros.
Com informações de Gazeta do Povo