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Disputa entre Lula e EUA sobre terras raras expõe falta de capacidade de refino no Brasil

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O controle das chamadas terras raras colocou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os Estados Unidos em lados opostos de uma batalha de discursos. Enquanto Washington apresenta propostas de cooperação para reduzir a dependência global da China, o Palácio do Planalto reforça um tom de soberania, afirmando que os recursos minerais do país não estarão sob “tutela” estrangeira.

Recado de Lula

Em 25 de julho, durante evento oficial em Minas Novas (MG), Lula declarou: “Temos todo o nosso ouro para proteger. Temos todos os minerais ricos que vocês querem para proteger. E aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro”. A fala ocorreu após câmaras de comércio americanas encaminharem ao governo brasileiro uma proposta de parceria para extração e beneficiamento de minerais críticos.

Ofensiva norte-americana

A iniciativa conta com o aval do governo de Donald Trump, que voltou a priorizar o acesso a matérias-primas estratégicas diante da tensão com Pequim. Nesta semana, o encarregado de negócios da embaixada dos EUA em Brasília, Gabriel Escobar, reuniu-se com representantes do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) para reiterar o interesse em avançar no tema.

Ausência de plano concreto

Apesar das trocas de mensagens públicas, nenhum dos dois governos apresentou até agora um projeto de industrialização ou processamento conjunto dos minerais. O pesquisador Nélio Reis, autor de “Terras Raras, Poder e Independência”, resume: “O mundo respeita quem tem a tecnologia, não quem tem o minério”.

Cobrança no Congresso

O presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputado Filipe Barros (PL-PR), acusou o Executivo de incoerência. Ele lembrou que, segundo ele, o governo “fez vista grossa” à compra da mineradora Taboca por uma estatal chinesa e classificou a postura atual de “chavão publicitário”.

Reservas expressivas, produção limitada

Dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostram o contraste entre potencial geológico e produção efetiva:

  • Terras raras: 21 milhões de toneladas em reservas (19% do total mundial); produção de 80 toneladas, ante 350 mil no mundo.
  • Nióbio: 16 milhões de toneladas em reservas (94%); produção de 75 mil toneladas (90% da oferta global).
  • Grafita: 74 milhões de toneladas em reservas (26%); produção de 73 mil toneladas (5%).
  • Manganês: 270 milhões de toneladas em reservas (14%); produção de 620 mil toneladas (3%).
  • Lítio: 1,37 milhão de toneladas em reservas (5%); produção de 49 mil toneladas (3%).

Política nacional em estudo

Para tentar reduzir o gargalo, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou que o governo estuda lançar, no próximo ano, uma política nacional para minerais críticos. A ideia é criar incentivos à instalação de refinarias e polos industriais.

Disputa entre Lula e EUA sobre terras raras expõe falta de capacidade de refino no Brasil - Imagem do artigo original

Imagem: Dominik Vanyi via gazetadopovo.com.br

EUA buscam diversificação

O interesse dos EUA integra uma estratégia iniciada no primeiro mandato de Trump, quando, em 2020, foi assinada ordem executiva que declarou emergência nacional no setor de minerais críticos. O plano inclui cinco frentes: diálogo bilateral, mapeamento geológico, financiamento, parceria tecnológica e engajamento comunitário.

Washington firmou acordo semelhante com a Ucrânia, que prevê exploração futura em troca da continuidade da ajuda militar americana. Para Nélio Reis, a parceria é mais simbólica que prática, pois o país do Leste Europeu não possui infraestrutura para produzir em escala durante o conflito.

No caso brasileiro, o pesquisador observa estabilidade política e jazidas mapeadas, mas ressalta a “ausência de refinarias, política industrial ativa e segurança jurídica” para atrair grandes investidores. “A narrativa anda mais rápido que os investimentos”, conclui.

Com informações de Gazeta do Povo