Brasília – Faltando 100 dias para a abertura da COP-30, 25 países encaminharam um documento à Secretaria-Extraordinária da conferência e à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) solicitando a transferência total ou parcial do evento de Belém para outra cidade. O motivo alegado são os preços “exorbitantes” das hospedagens na capital paraense, que, segundo cotações internas da própria organização, chegam a ser 15 vezes superiores às tarifas praticadas normalmente.
A carta, revelada nesta sexta-feira (1.º) pela Folha de S.Paulo, reúne signatários como Canadá, Suécia, Holanda, Áustria, Bélgica, Finlândia, Noruega e Suíça, além dos coletivos Grupo de Negociadores Africanos e Países Menos Desenvolvidos (LDC). O texto pede “garantias reais” de que as delegações possam viajar, hospedar-se a preços acessíveis e deslocar-se com segurança entre os hotéis e o pavilhão de negociações, até mesmo durante a noite.
Reação do governo brasileiro
A Secretaria-Extraordinária da COP-30 confirmou o recebimento do ofício e afirmou não haver chance de a conferência ocorrer fora de Belém. A realização do encontro no coração da Amazônia é bandeira defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo governador Helder Barbalho (MDB-PA), que pretendem levar líderes mundiais a debater a floresta “in loco”.
Na terça-feira (29), a UNFCCC convocou reunião de emergência e deu prazo até 11 de agosto para o Brasil apresentar “soluções concretas”. “O Brasil tem muitas opções para termos uma COP melhor”, disse Richard Muyungi, presidente do Grupo de Negociadores Africanos, à agência Reuters. Ele também rejeitou a possibilidade de reduzir o tamanho das delegações.
Escalada de preços e alternativas
Presidente da COP-30, o diplomata André Corrêa do Lago reconheceu, na quinta-feira (31), que alguns países pediram oficialmente a mudança de sede. “Os preços de Belém estão completamente abusivos, mais de dez vezes e até 15 vezes o valor normal”, afirmou. Diplomatas relataram ofertas de até US$ 700 por noite.
Para conter a crise, o governo estuda investigar práticas abusivas do setor hoteleiro e mobilizar opções como Airbnb, escolas, unidades do Minha Casa Minha Vida e navios de cruzeiro. Também lançou uma plataforma oficial de hospedagem restrita a participantes: quartos de até US$ 220 (R$ 1.225) para países em desenvolvimento; 15 quartos por delegação de LDCs, a até US$ 200; e 10 quartos por delegação de demais países, a até US$ 600. O total oferecido é de 2,5 mil acomodações.
Imagem: Fernando Frazão via gazetadopovo.com.br
Os signatários, contudo, consideram a medida insuficiente e pleiteiam diárias máximas de US$ 164 (R$ 918) em hotéis próximos ao Parque da Cidade, onde ficará o pavilhão principal. A carta também critica a sugestão de dividir quartos para baratear custos e ressalta que a participação da sociedade civil precisa estar assegurada. “Se essas condições não forem atendidas, não teremos chance de chegar a um resultado de sucesso”, alerta o documento.
A COP-30 está prevista para novembro e deve reunir cerca de 50 mil participantes em Belém.
Com informações de Gazeta do Povo
