Brasília – Após mais de um ano de alertas de parlamentares norte-americanos e de sinais enviados pelo Departamento de Estado, o governo Luiz Inácio Lula da Silva e o Itamaraty não conseguiram evitar a adoção de sanções econômicas e políticas pelos Estados Unidos. As medidas, oficializadas em 30 de julho de 2025, incluem tarifa de 50% sobre produtos brasileiros que entram no mercado norte-americano a partir de 6 de agosto e a inclusão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na lista da Lei Global Magnitsky.
Escalada de advertências desde 2024
O primeiro alerta público partiu do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ainda no primeiro semestre de 2024, antes da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas de novembro daquele ano. O parlamentar articulou pressão junto a congressistas dos EUA, argumentando que o Judiciário brasileiro perseguia opositores de direita.
Em 23 de junho de 2024, reportagem da Gazeta do Povo já relatava o risco de retaliações. Naquele período, o deputado Chris Smith, presidente do Subcomitê de Direitos Humanos da Câmara dos EUA, enviou carta ao ministro Alexandre de Moraes denunciando “graves violações” de liberdades civis, como censura prévia a jornalistas e sanções contra parlamentares.
Reação limitada do Itamaraty
Diante dos sucessivos avisos, o Palácio do Planalto restringiu-se a notas de repúdio e não abriu canais de negociação concretos. Mesmo após os primeiros comunicados do Departamento de Estado, a diplomacia brasileira manteve postura considerada de confronto ideológico e não buscou diálogo direto com a campanha de Trump, que prometia restaurar o protagonismo dos EUA.
Momento decisivo
Já em 7 de julho de 2025, Trump classificou o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro como “caça às bruxas” em mensagem na rede Truth Social. Dois dias depois, enviou carta a Lula condenando o julgamento no STF e anunciando a tarifa de 50% para mercadorias brasileiras.
Além do aumento tarifário, autoridades do Judiciário e familiares de ministros tiveram vistos de entrada nos EUA cancelados. A inclusão de Moraes na Lei Magnitsky busca isolá-lo do sistema financeiro ligado a empresas norte-americanas. Caso decisões do STF tentem neutralizar os efeitos das sanções, especialistas apontam risco de insegurança jurídica e intensificação do atrito institucional.
Análises e impacto econômico
Para Daniel Afonso Silva, professor de Relações Internacionais da USP, o governo “perdeu tempo precioso” e agora enfrenta dificuldade para reverter o quadro. Ele lista três hipóteses para a demora: falta de coordenação interna, subestimação do impacto econômico ou percepção de impotência diante da decisão dos EUA.

Imagem: Marcelo Camargo via gazetadopovo.com.br
Juan Carlos Arruda, diretor-geral do Ranking dos Políticos, avalia que o Executivo tende a adotar medidas pontuais para mitigar os efeitos do tarifaço, mas a falta de estratégia unificada e declarações agressivas de Lula complicam a construção de uma saída negociada.
Reações em Brasília
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirma que “os canais sempre estiveram abertos” e propôs créditos extraordinários e financiamentos públicos para setores mais atingidos, levantando preocupações fiscais. Governadores dos estados afetados recusaram reunião com o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin (PSB).
Enquanto isso, Lula endurece o discurso e limita eventual conversa com Trump a pautas estritamente econômicas. A postura reforça o impasse diplomático num momento em que Washington já fechou acordos de redução tarifária com União Europeia, Japão, Reino Unido e Índia, deixando o Brasil fora das prioridades.
Com os 50% de sobretaxa prestes a entrarem em vigor e a aplicação das penalidades da Lei Magnitsky, as relações bilaterais alcançam o nível mais tenso em quase dois séculos.
Com informações de Gazeta do Povo