O Ministério das Relações Exteriores informou nesta quarta-feira (23) que o Brasil está na etapa final para ingressar, como parte interessada, na ação apresentada pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ). O processo, aberto em dezembro de 2023, acusa autoridades israelenses de violar a Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio contra o povo palestino.
Em nota, o Itamaraty declarou “profunda indignação” com os episódios de violência contra civis na Palestina, mencionando tanto a Faixa de Gaza quanto a Cisjordânia. O governo brasileiro afirmou que não há mais “espaço para ambiguidade moral nem omissão política” e acusou Israel de usar a fome como arma de guerra e de promover massacres de civis, sobretudo mulheres e crianças, durante a distribuição de ajuda humanitária.
Conflito e números de vítimas
O confronto foi desencadeado em 7 de outubro de 2023, após ataque do Hamas que resultou no sequestro de 251 pessoas. Israel calcula que 50 reféns ainda estejam em Gaza, dos quais 20 estariam vivos. Desde então, autoridades de saúde locais registram mais de 59 mil palestinos mortos e 143 mil feridos no território.
O ministério também destacou que o total de mortes em pontos de assistência humanitária ultrapassa mil pessoas. Entre o início de julho de 2025 e esta quarta-feira, pelo menos 46 crianças morreram por inanição e desnutrição, somando mais de cem óbitos desse tipo desde outubro de 2023.
Cenário humanitário
Um comunicado conjunto de 111 organizações — entre elas Médicos Sem Fronteiras, Save the Children e Oxfam — alertou que 2,1 milhões de habitantes de Gaza passam fome e que trabalhadores humanitários “estão morrendo lentamente”. As entidades pediram trégua imediata, abertura de passagens e livre fluxo de auxílio.
O governo israelense refutou as acusações, alegando que as ONGs “servem à propaganda do Hamas” e informando que cerca de 4.500 caminhões com suprimentos entraram no território. Segundo Israel, um “gargalo” logístico da ONU mantém outros 700 veículos parados na fronteira.

Imagem: Camila Abrão via gazetadopovo.com.br
Resposta da Conib
A Confederação Israelita do Brasil (Conib) reagiu dizendo que a iniciativa do governo brasileiro sinaliza o abandono da “tradição de equilíbrio e moderação” na política externa. Em nota, a entidade classificou a denúncia de genocídio como “falsa e perversa” e atribuiu as mortes palestinas ao Hamas, que, segundo a organização, usa civis como escudos humanos. A Conib ainda afirmou que o distanciamento entre Brasil e Israel é “medida equivocada” e não conta com apoio da população brasileira.
No comunicado oficial, o Itamaraty ressaltou que a decisão de intervir na CIJ se baseia no dever dos Estados de garantir o cumprimento do direito internacional diante da plausibilidade de que os direitos dos palestinos estejam sendo “irreversivelmente prejudicados”, conforme apontado pela própria Corte em medidas cautelares de 2024.
Com informações de Gazeta do Povo