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Afastamento de pastor por depressão expõe crise de saúde mental entre líderes evangélicos

O pastor Luciano Estevam anunciou, no fim de 2024, sua saída da Primeira Igreja Batista em Aracruz (ES) depois de 24 anos e sete meses de ministério. O líder religioso foi diagnosticado com depressão severa e decidiu interromper as atividades para concentrar-se no tratamento.

Na despedida, Estevam afirmou que não pretende “arriscar continuar com o ministério de qualquer igreja para não causar prejuízo ao reino de Deus” enquanto estiver doente. O episódio reforça a preocupação com a saúde emocional de pastores, tema que vem ganhando relevância em diferentes denominações.

Dados apontam desgaste generalizado

Levantamento do Barna Group mostra que 42% dos pastores norte-americanos já consideraram abandonar o púlpito devido à exaustão. No Brasil, pesquisa da PUC-SP identificou sintomas de depressão em 8% e de ansiedade em 18,4% dos pastores da Convenção Geral das Assembleias de Deus.

Para a psicóloga Danielle Silva, a sobrecarga de trabalho, a cobrança por resultados e o isolamento afetivo contribuem para o adoecimento. “Muitos acumulam funções e ignoram as próprias necessidades, permanecendo em estado de alerta por longos períodos”, observa. Ela ressalta que o estigma em torno do sofrimento psíquico, entendido por alguns como falta de fé, adia a procura por ajuda.

Necessidade de acolhimento

O pastor e psicanalista Sidnei Vicente Paula de Melo defende a integração entre fé e ciência no cuidado dos líderes. “A psicanálise favorece a reconciliação intrapsíquica e complementa o aspecto espiritual”, explica. O também pastor e psicanalista Anderson Aurora destaca que a escuta clínica “transforma o sofrimento em processo de cura”, ajudando na identificação de traumas.

Silêncio no púlpito

Autor do livro “A Batalha Silenciosa dos Pastores”, o pastor Júnior Martins estima que cerca de 60% dos líderes religiosos brasileiros enfrentem algum grau de depressão. Ele afirma que o medo do estigma e a falta de apoio institucional mantêm muitos em silêncio. “Romper o silêncio é o primeiro passo para o cuidado”, diz.

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Imagem: folhagospel.com

No livro, Martins recorre a personagens bíblicos como Sansão e Judas para mostrar que o sofrimento emocional faz parte da experiência humana, inclusive na vida religiosa, e que buscar ajuda não representa fraqueza espiritual.

O caso de Luciano Estevam reforça a necessidade de programas de prevenção e acolhimento nas igrejas. Especialistas defendem que o cuidado emocional seja incorporado à rotina ministerial para preservar a saúde dos pastores e a vitalidade das comunidades que lideram.

Com informações de Folha Gospel