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Mercado vê Selic acima de 12% em 2026; gastos eleitorais seguram corte de juros

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A taxa básica de juros deve permanecer em dois dígitos até o fim de 2026. Projeções divulgadas pelo mercado financeiro apontam para um piso de 12,25% ao ano, resultado da combinação entre inflação resistente e expansão de gastos públicos prevista no chamado “kit reeleição” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O pacote inclui mais de R$ 250 bilhões em medidas fiscais — entre elas a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil mensais, compensada por tributos adicionais sobre as camadas de renda mais altas e possíveis reajustes de alíquotas de importação. Analistas avaliam que o impulso à demanda em pleno ano eleitoral tende a pressionar os preços e limitar a atuação do Banco Central (BC).

Cenário atual

Na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que se encerra nesta quarta-feira (10), a expectativa dominante é de manutenção da Selic em 15% ao ano. Em termos reais, descontada a inflação, a taxa chega a 9,74%, a segunda maior do mundo, atrás apenas da Turquia, segundo a consultoria MoneYou.

Do lado dos preços, a inflação de serviços gira em torno de 6% ao ano, sustentada por mercado de trabalho aquecido — a taxa de desemprego ficou em 5,4% em outubro, a menor da série iniciada em 2012 pelo IBGE. As expectativas para 2025 e 2026 seguem acima da meta estabelecida pelo BC.

Cortes limitados

A maior parte das casas de análise projeta o início da flexibilização monetária entre janeiro e março de 2026. Mesmo assim, o recuo estimado não deve levar a Selic para menos de 12,25% ao fim do próximo ano, patamar considerado insuficiente pelo setor produtivo.

A XP Investimentos vê a política fiscal expansionista como “risco central” para o ciclo de corte de juros. Já a Genial Investimentos afirma que o crescimento esperado para 2026 decorre de estímulos temporários, fenômeno apelidado de “voo de galinha”.

Dívida e rigidez orçamentária

A dívida bruta do governo passou de 71,7% do PIB em dezembro de 2022 para 78,6% em outubro de 2025. Estimativas do Instituto Fiscal Independente (IFI) indicam avanço para 82,4% do PIB até dezembro de 2026, enquanto o Boletim Focus projeta até 84%.

Segundo a Lei Orçamentária de 2025, 92,2% das despesas primárias são obrigatórias. Para o UBS, seria necessário rever vinculações constitucionais em saúde e educação para conter o avanço do gasto. A postergação de pagamentos de precatórios também é citada como fator de perda de confiança.

Atividade perde fôlego

No terceiro trimestre de 2025, o PIB cresceu 0,1% sobre o trimestre anterior. Em 12 meses, a alta foi de 2,7%, a menor desde 2021. O consumo das famílias avançou apenas 0,1%, enquanto a indústria de transformação enfrenta ociosidade elevada.

Entidades como CNI e Ciesp reclamam que os juros altos encarecem o crédito e bloqueiam investimentos. Bancos têm restringido concessões, e empresas recorrem a instrumentos como FIDCs para manter capital de giro.

Risco de dominância fiscal

A XP alerta para a possibilidade de a política monetária perder eficácia caso a dívida pública cresça além do esperado. Nessa circunstância, aumentos na Selic deixariam de conter a inflação e passariam a realimentar a desconfiança sobre a trajetória fiscal.

Incertezas no Banco Central

O presidente do BC, Gabriel Galípolo, declarou que a instituição deixará de sinalizar previamente a direção dos juros, encerrando a prática das “setas”. A medida, somada à saída dos diretores Diogo Guillem e Renato Dias de Brito Gomes, adiciona volatilidade às expectativas dos investidores.

Fatores externos

A perspectiva de que o Federal Reserve inicie cortes de juros nos Estados Unidos tende a aliviar o câmbio, mas o BTG Pactual avalia que a taxa terminal norte-americana pode ficar acima do previsto, o que limitaria fluxos para emergentes. Ano eleitoral no Brasil também costuma elevar a volatilidade do real.

Para analistas, o ambiente de 2026 combina juros ainda restritivos, dívida crescente e incerteza política, cenário que mantém o crédito caro e dificulta a retomada robusta da atividade.

Com informações de Gazeta do Povo