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De Banco Econômico ao Master: três décadas de quebras bancárias e resgates no Brasil

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Brasília – A liquidação extrajudicial do Banco Master, em 18 de novembro de 2025, reacendeu o debate sobre a sucessão de colapsos que marcaram o sistema financeiro brasileiro desde o Plano Real. A seguir, os principais episódios, valores envolvidos e medidas adotadas pelo Banco Central (BC) e pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para conter danos ao mercado e aos correntistas.

O padrão de fragilidades

Má gestão, fraudes contábeis, crédito temerário e fiscalização insuficiente são fatores recorrentes nessas crises. Ao longo dos anos, o BC recorreu a intervenção, liquidação, Regime de Administração Especial Temporária (Raet) e programas como o Proer, criado em 1995, para preservar a estabilidade do setor.

Principais rompimentos

Banco Econômico – 1995
• Rombo estimado: R$ 3 bilhões.
• Motivo: carteira deteriorada e empréstimos a empresas ligadas aos controladores.
• Medida: liquidação parcial e intervenção; parte saudável repassada ao Excel Econômico, depois incorporado pelo Banco do Brasil.

Banco Nacional – 1995
• Rombo estimado: entre R$ 5 bilhões e R$ 12 bilhões.
• Motivo: mais de 600 mil contas fictícias e manobras para ocultar perdas.
• Medida: intervenção do BC; ativos bons transferidos ao Unibanco, passivos ficaram em liquidação por quase 30 anos.

Bamerindus – 1997
• Custo da intervenção: R$ 3,7 bilhões (cerca de R$ 20 bilhões atuais).
• Motivo: fuga de depósitos, deterioração da carteira e capital insuficiente.
• Medida: intervenção e venda da parte saudável ao HSBC; liquidação concluída em 2013 pelo BTG Pactual.

Banco Santos – 2004
• Rombo: entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões.
• Motivo: créditos fictícios e triangulações financeiras.
• Medida: liquidação em 2005; bens pessoais do controlador, Edemar Cid Ferreira, leiloados para pagar credores.

PanAmericano – 2010
• Rombo inicial: R$ 2,5 bilhões; auditorias elevaram o valor para mais de R$ 4 bilhões.
• Motivo: venda fictícia de carteiras de crédito.
• Medida: aporte inédito do FGC; banco vendido ao BTG Pactual e rebatizado como Banco PAN – maior resgate sem liquidação.

Cruzeiro do Sul – 2012
• Rombo contábil: cerca de R$ 1,3 bilhão; prejuízo total ultrapassou R$ 2 bilhões.
• Motivo: inflar balanços com empréstimos fictícios e emissão de títulos irregulares.
• Medida: intervenção, afastamento dos controladores e tentativas frustradas de venda; processos judiciais seguem em curso.

Banco Rural – 2013
• Motivo: insuficiência de capital, prejuízos recorrentes e envolvimento no esquema do Mensalão.
• Medida: liquidação direta; executivos condenados e processo de ressarcimento aos credores ainda em andamento.

Banco Master – 2025
• Ativos: R$ 86,4 bilhões.
• Depósitos elegíveis ao FGC: mais de R$ 62 bilhões.
• Passivo: acima de R$ 56 bilhões, dos quais R$ 41 bilhões a R$ 49 bilhões cobertos pelo FGC.
• Clientes afetados: mais de 12 milhões.
• Motivo: emissão de títulos fraudulentos e grave falta de liquidez.
• Medida: liquidação extrajudicial após prisão do controlador Daniel Vorcaro na Operação Compliance Zero.

Instrumentos de socorro

Desde 1995, o Proer permitiu a transferência de carteiras saudáveis e a absorção de prejuízos pelo Estado. Paralelamente, o FGC ganhou protagonismo ao reembolsar depositantes e comprar carteiras de bancos médios, enquanto o Raet serviu como intervenção temporária até que soluções permanentes fossem definidas.

Os episódios mostram como, a cada nova crise, parte da conta é dividida entre o Tesouro, o FGC e, de forma indireta, os correntistas, mantendo acesa a discussão sobre a eficácia da supervisão bancária no país.

Com informações de Gazeta do Povo