Brasília, 5 dez. 2025 – O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), sediado no Reino Unido, advertiu em seu mais recente relatório anual sobre conflitos armados que facções criminosas latino-americanas estão ampliando sua influência sobre a vida política e as instituições estatais da região.
O documento apresenta o crime organizado como uma ameaça crescente à democracia na América Latina, ao lado de organizações terroristas de alcance global. Segundo o IISS, grupos como Hamas, Hezbollah e houthis diferenciam-se por possuírem agenda política interna e ambições geopolíticas, mas cartéis e facções do continente começam a seguir caminho parecido.
Facções evoluem para “atores quase estatais”
De acordo com o relatório, “poderosos sindicatos do crime, principalmente na América Latina, mas também em outras regiões, evoluíram progressivamente para atores quase estatais”, usando influência política como forma de proteger interesses econômicos em expansão.
O think tank destaca exemplos como o Tren de Aragua, da Venezuela, e o brasileiro Primeiro Comando da Capital (PCC), que ampliaram domínio territorial por meio da violência, de alianças com grupos regionais e da cooptação de agentes públicos corruptos.
O fortalecimento dessas organizações é potencializado por instituições frágeis e corrupção, cenário que coloca em risco democracias já vulneráveis e o Estado de Direito em escala nacional e regional, alerta o instituto.
Violência política e cooptação de candidatos
Em artigo na revista Americas Quarterly, o pesquisador Will Freeman, do Conselho de Relações Exteriores (CFR) dos Estados Unidos, afirma que assassinatos de políticos são apenas uma das frentes usadas pelas facções. Ele cita o caso do senador colombiano e pré-candidato presidencial Miguel Uribe Turbay, morto neste ano, crime atribuído à Segunda Marquetalia, dissidência das Farc.
Freeman lembra ainda a pressão sobre candidatos para desistirem de disputas e o sequestro de dezenas de ativistas de oposição no estado mexicano de Sinaloa, em 2021. Além disso, há financiamento direto de campanhas e acordos de “ganha-ganha” com políticos corruptos.
“Quando esses pactos se concretizam, a máquina pública passa a servir aos negócios ilícitos”, escreve o analista. Contratos governamentais viram canais de lavagem de dinheiro, cartórios registram bens obtidos ilegalmente e policiais locais podem ser cooptados. Segundo Freeman, PCC e Comando Vermelho (CV) dominam essas táticas no Brasil.
Poder paralelo em vários países
O estudo observa que, em regiões do México, Colômbia, Brasil, Equador e América Central, o crime passou a funcionar como poder paralelo, mantendo receitas próprias, confrontando ou colaborando com o Estado conforme a conveniência.
Para o IISS, a tendência de politização do crime organizado traz “importantes repercussões negativas para a segurança regional e global”, exigindo respostas que reforcem instituições e combatam a corrupção que facilita a infiltração criminosa.
Com informações de Gazeta do Povo