Brasília – O telefone celular apreendido pela Polícia Federal (PF) com o banqueiro Daniel Vorcaro, controlador do Banco Master, tornou-se ponto de preocupação entre políticos, autoridades do Judiciário e integrantes do mercado financeiro. O aparelho foi recolhido em 17 de novembro, no Aeroporto de Guarulhos, durante a Operação Compliance Zero, mesma ação que resultou na prisão do executivo.
Investigadores relatam que o dispositivo reúne registros de conversas, áudios e históricos de chamadas com governadores, deputados, senadores, ministros de Estado e membros do Judiciário. Embora a mera existência dos contatos não configure irregularidade, o material será submetido a perícia da PF, o que acendeu alerta no governo, no Centrão e na oposição.
Pressões políticas e lobby no Congresso
Fontes próximas à investigação indicam que a principal rede de apoio de Vorcaro se formou entre parlamentares de destaque do Centrão. Um senador teria atuado para impedir a instalação de uma CPMI que, em 2024, buscava apurar operações do Banco Master. Documentos confiscados agora podem esclarecer as manobras que barraram a comissão.
Outro congressista tentou incluir na PEC da autonomia financeira do Banco Central a chamada “emenda Master”, destinada a elevar de R$ 250 mil para R$ 1 milhão a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) — benefício direto ao principal produto do banco.
Governadores e negócios com o BRB
Governos estaduais também surgem no inquérito, sobretudo os que compraram ações do Master. Entre eles aparece o Banco de Brasília (BRB), cuja aquisição de carteiras de crédito sem lastro está sob escrutínio. Para a PF, o negócio buscou reduzir a vigilância do Banco Central.
Relações com autoridades jurídicas
Vorcaro patrocinou em 2022 um jantar para ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) em Nova York e contratou o escritório da advogada Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes. Nenhuma irregularidade foi apontada nesses vínculos.
O atual ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, integrou o comitê consultivo do Banco Master entre abril de 2023 — quando se aposentou do STF — e janeiro de 2024, data em que assumiu o cargo no Executivo. A assessoria informa que o ex-ministro suspendeu o registro na OAB ao ingressar no governo.
Suposta tentativa de fuga e soltura
Segundo a PF, Vorcaro já sabia que seria alvo de buscas e tentava embarcar em jatinho rumo a Dubai quando foi detido, hipótese contestada pela defesa, que afirma tratar-se de viagem de negócios para concluir venda do banco. O executivo deixou a prisão no último fim de semana e passou a usar tornozeleira eletrônica.
Fraude bilionária e impacto no sistema financeiro
O Banco Master é acusado de emitir CDBs com juros acima do mercado sem garantia de liquidez, movimentando, de acordo com a PF, cerca de R$ 50 bilhões. A liquidação extrajudicial da instituição obrigará o Fundo Garantidor de Créditos a cobrir R$ 41 bilhões a 1,6 milhão de investidores — maior resgate de sua história. O banco nega qualquer irregularidade e sustenta ter seguido todas as normas do Banco Central.
Para investigadores, os conteúdos do celular podem revelar pressões, repasses a campanhas e pedidos de favorecimento, ampliando a investigação para além do aspecto financeiro. “A dimensão política pode superar a financeira”, avalia o constitucionalista André Marsiglia, que vê risco de “desestruturar o tabuleiro” caso venha à tona uma delação.
O inquérito avança em dois eixos principais: supostas fraudes bilionárias e análise do material digital confiscado. A PF não comenta investigações em andamento, e a defesa do banqueiro diz que os dados são protegidos por sigilo bancário.
As apurações seguem sem previsão de conclusão.
Com informações de Gazeta do Povo