Moscou – A mephedrona, droga sintética popularmente chamada de “miau-miau”, tem se espalhado rapidamente pela Rússia e gerado comparações com a crise do fentanil nos Estados Unidos. Barata, potente e altamente viciante, a substância já responde por cerca de um terço de todas as vendas de entorpecentes ilegais no país.
Expansão entre jovens e militares
O consumo cresce principalmente entre adolescentes e entre militares que lutam ou lutaram na ofensiva russa na Ucrânia. Organizações não governamentais relatam aumento expressivo de usuários, incluindo veteranos traumatizados pelos combates.
Produção caseira e lucro elevado
Traficantes ouvidos pela BBC estimam que a produção de um quilo de mephedrona custa entre 30 mil e 150 mil rublos (R$ 2 mil a R$ 10 mil). O mesmo volume é revendido por cerca de 2 milhões de rublos (R$ 137 mil), valor que atrai pequenos produtores e impulsiona o mercado.
Os precursores químicos chegam de fábricas legais russas ou são importados da China. A droga é sintetizada em laboratórios improvisados; kits para fabricação circulam na dark web e em aplicativos de mensagens. “Qualquer estudante pode prepará-la na cozinha”, disse um produtor à emissora.
Repressão insuficiente
Mesmo após o fechamento de 138 laboratórios em 2024, a oferta continua elevada. Segundo a revista britânica The Spectator, as mortes relacionadas a drogas ilícitas na Rússia mais que dobraram desde 2019, superando 10 mil por ano, com a mephedrona responsável por grande parte dos óbitos.
Efeito da guerra na Ucrânia
Em análise para a ONG Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional, o especialista Mark Galeotti lembrou que experiências de combate favorecem o uso de entorpecentes. Ele cita que, após a guerra soviética no Afeganistão (1979-1989), 372 mil veteranos desenvolveram dependência de álcool ou drogas. Para Galeotti, a atual campanha na Ucrânia reproduz esse cenário, estimulando a automedicação com “sal” – gíria local para mephedrona.
Casos de uso já aumentam em regiões como Krasnodar, Moscou, Kostroma, Kurgan, Chelyabinsk, Perm e Adiguésia, além de áreas ocupadas na Ucrânia, como Donetsk.
Com informações de Gazeta do Povo