Pequim, 21 nov. 2025 – A tensão diplomática entre China e Japão atingiu novo patamar depois que a primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, afirmou que Tóquio poderia intervir militarmente em Taiwan caso a ilha fosse atacada por Pequim. A fala, considerada “agressiva” pelo governo chinês, desencadeou uma série de retaliações culturais e econômicas.
Boicotes no cinema e reunião adiada
Na quinta-feira (20), o Ministério da Cultura da China anunciou o adiamento de um encontro trilateral com Japão e Coreia do Sul. A pasta alegou que as declarações de Takaichi “feriram os sentimentos do povo chinês”. Poucos dias antes, distribuidores locais haviam suspendido a estreia de dois filmes japoneses pelo mesmo motivo.
Turismo em queda livre
Alertas oficiais pedindo que cidadãos chineses evitem viajar ao Japão citaram, sem apresentar provas, risco de “atos criminosos” contra turistas. Companhias aéreas da China passaram a isentar taxas de cancelamento, provocando a anulação de cerca de 500 mil viagens. A medida derrubou ações ligadas a turismo e varejo em Tóquio.
O economista Takahide Kiuchi, do Instituto de Pesquisa Nomura, calcula que o recuo no fluxo de visitantes possa custar ao Japão 2,2 trilhões de ienes (aproximadamente R$ 75 bilhões) e reduzir o Produto Interno Bruto em 0,36 ponto percentual.
Entraves a estudantes e às importações
Pequim também aconselhou estudantes chineses a “agir com prudência” ao escolher universidades japonesas. No comércio, o regime de Xi Jinping suspendeu a importação de frutos do mar japoneses e interrompeu negociações sobre a volta da carne bovina do país ao mercado chinês. As vendas de pescados haviam sido retomadas parcialmente no início do mês, após mais de um ano de impasse provocado pelo lançamento de água tratada da usina de Fukushima no oceano.
Críticas ao rearmamento japonês
Nesta sexta-feira (21), a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, afirmou que o Japão “ultrapassa limites” ao reforçar sua capacidade militar. Segundo ela, documentos pós-Segunda Guerra Mundial impuseram a Tóquio a obrigação de se manter desarmada, mas o país vem ampliando o orçamento de defesa há 13 anos, relaxando restrições internas e autorizando a exportação de armamentos letais.
O governo japonês defende diálogo para contornar a crise, mas Pequim sinaliza que não recuará enquanto Sanae Takaichi não se retratar sobre Taiwan — questão considerada “linha vermelha” pela liderança chinesa. Embora não reconheça formalmente a ilha como Estado independente, o Japão mantém laços estreitos com Taipé desde 1949.
Com informações de Gazeta do Povo