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Pressão militar dos EUA na Venezuela coloca diplomacia brasileira em encruzilhada

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A aproximação do porta-aviões norte-americano USS Gerald Ford ao Mar do Caribe e o início da operação Lança do Sul contra o narcotráfico elevaram a tensão na América do Sul e exigem do Brasil uma definição de postura diante de uma possível ação militar dos Estados Unidos contra a Venezuela.

Cenários em análise

Analistas apontam três hipóteses principais para os próximos passos em Caracas: a deposição de Nicolás Maduro por aliados internos, um acordo que leve à sua sucessão ou o início de bombardeios norte-americanos a alvos venezuelanos. Qualquer dessas alternativas obrigará o governo brasileiro a equilibrar pragmatismo e alinhamento ideológico.

Postura prevista do Itamaraty

De acordo com o cientista político Márcio Coimbra, do Instituto Monitor da Democracia, o Itamaraty tende a defender o princípio da não-intervenção e a condenar o aumento da presença militar extrarregional. A estratégia inclui recorrer a organismos internacionais, como a ONU, para sustentar a soberania venezuelana, enquanto mantém canais de diálogo com Washington a fim de preservar interesses econômicos brasileiros.

Se ataques aéreos forem confirmados, a diplomacia brasileira ganharia argumento adicional para protestar contra qualquer intervenção em país soberano, ainda que a nação vizinha seja governada por uma ditadura.

Impactos em caso de transição em Caracas

Caso Maduro seja afastado por meios internos ou por acordo político, o Palácio do Planalto enfrentará pressão doméstica e externa para apoiar eleições livres na Venezuela. Segundo Coimbra, o apoio brasileiro dependerá de eventuais garantias de sobrevivência do chavismo ou de que o processo eleitoral evite uma invasão estrangeira.

Segurança de fronteira e refugiados

Independentemente do desfecho, Brasília já avalia reforçar a fronteira norte, preparar-se para nova onda migratória e impedir a entrada de integrantes de escalões médios do regime chavista em busca de refúgio.

Relações regionais em risco

Para o professor Daniel Afonso Silva, da USP, uma ofensiva dos EUA questiona a liderança diplomática do Brasil e do Mercosul. Ele observa que a ação norte-americana é percebida como defesa da zona de influência dos EUA no continente, o que obriga o governo brasileiro a conciliar a autodeterminação dos povos com a estabilidade regional.

Lula critica mobilização militar

Em 9 de novembro, durante a Cúpula Celac-União Europeia, em Santa Marta (Colômbia), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou a escalada militar americana, reforçou a ideia de uma América Latina como zona de paz e demonstrou solidariedade a Maduro. O comunicado final do encontro mencionou o uso ou ameaça de força sem citar Washington, motivo pelo qual Caracas se recusou a assinar o texto.

Detalhes da operação norte-americana

Desde a travessia do Estreito de Gibraltar, o USS Gerald Ford navega com transponder desligado, sinal de missão militar ativa. O navio, incorporado à frota dos EUA em 2017, pode operar até 90 aeronaves simultaneamente. A Casa Branca, sob comando de Donald Trump, já classificou cartéis sul-americanos como organizações terroristas, bombardeou embarcações suspeitas e oferece US$ 50 milhões pela captura de Maduro, acusado de chefiar o Cartel de Los Soles.

Em resposta, o governo venezuelano anunciou plano defensivo baseado em guerra de guerrilha e uso de armamentos russos antigos, contribuindo para o aumento da tensão na região.

Com a situação ainda indefinida, o Brasil procura espaço para exercer mediação, reafirmar a não-intervenção e proteger seus interesses estratégicos sem romper laços nem com Washington nem com Caracas.

Com informações de Gazeta do Povo