Apontado pelo governo federal como a principal vitrine brasileira na COP30, em Belém (PA), o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) foi anunciado em 17 de novembro de 2025 com a promessa de remunerar países tropicais que mantiverem suas florestas em pé. Especialistas, porém, afirmam que a iniciativa ainda carece de definições sobre financiamento, governança e compatibilidade com outros mecanismos climáticos.
Como o fundo pretende funcionar
O plano prevê captar US$ 125 bilhões, sendo US$ 25 bilhões de governos e US$ 100 bilhões de investidores privados. O capital seria aplicado em mercados financeiros e os rendimentos, estimados entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões por ano, seriam distribuídos aos países que comprovarem conservação de florestas.
Segundo o modelo apresentado, cada hectare preservado poderia gerar cerca de US$ 4 anuais, desde que o desmatamento fique abaixo de 0,5% ao ano. Há ainda a previsão de destinar 20% dos recursos a povos indígenas e comunidades tradicionais, mas o critério para essa repartição não foi detalhado.
Lacunas de financiamento
Até o momento, o governo contabiliza pouco mais de US$ 5 bilhões em promessas: US$ 1 bilhão do Brasil, US$ 1 bilhão da Indonésia, US$ 500 milhões da França e um compromisso do fundo soberano da Noruega de US$ 3 bilhões em dez anos, condicionado a que sua participação não ultrapasse 20% do total arrecadado. O volume mínimo de US$ 25 bilhões, considerado essencial para o início das operações, ainda não foi atingido.
Governança e soberania em debate
Não há definição completa sobre quem fiscalizará o fluxo de recursos, embora o Banco Mundial tenha sido citado como possível gestor. O advogado ambiental Antônio Fernando Pinheiro Pedro classifica o TFFF como “armadilha geopolítica” que poderia limitar a autonomia dos países beneficiados, já que investidores teriam influência sobre decisões internas.
Risco de sobreposição com o mercado de carbono
Analistas alertam para a possibilidade de “dupla contagem” caso a mesma área seja usada simultaneamente para receber repasses do TFFF e emitir créditos de carbono. A coexistência com o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) e outros programas internacionais exigirá regras de rastreabilidade e auditoria para evitar fraudes e greenwashing.
Critérios de acesso ainda indefinidos
O governo brasileiro mencionou que cerca de 70 nações tropicais poderiam concorrer aos recursos, entre elas Indonésia, República Democrática do Congo e China. Entretanto, não foram divulgados parâmetros objetivos para seleção de beneficiários, nem o papel de governos locais, ONGs ou associações na gestão dos valores repassados.
Com a COP30 prevista para encerrar-se nesta sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia retornar a Belém para tentar destravar negociações de financiamento climático e ampliar adesões ao fundo.
Com informações de Gazeta do Povo