Ação policial realizada em 28 de outubro de 2025 nos Complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, deixou 121 mortos e resultou em mais de 100 prisões. O episódio expôs, segundo especialistas em segurança pública, a necessidade de políticas coordenadas e de longo prazo para conter a expansão de facções como o Comando Vermelho (CV).
Ouvidos por diferentes entidades, pesquisadores e oficiais das forças de segurança indicam que a recuperação de áreas sob domínio criminoso demandará investimentos bilionários ao longo de ao menos uma década. A seguir, os dez eixos apontados como prioritários.
1. Retomada de territórios e novo modelo de UPPs
Com cerca de 1,9 mil comunidades, quase 95% sob influência criminosa, a primeira etapa seria retomar gradualmente as áreas dominadas. Em seguida, especialistas como o ex-capitão do Bope Paulo Storani defendem a reinstalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em formato “enxuto”, focado em favelas pequenas e médias, com permanência policial e integração de serviços públicos.
2. Geração de renda local
Alessandro Visacro, do grupo Defesa, Segurança e Inteligência da USP, propõe programas de microcrédito, inclusão produtiva e capacitação profissional para oferecer alternativas aos jovens. A economista Regina Martins reforça que a falta de perspectivas impulsiona o recrutamento pelo tráfico.
3. Mudança cultural nas comunidades
Especialistas sustentam que iniciativas de cultura, esporte e fortalecimento de lideranças locais são essenciais para minar o “prestígio social” dos traficantes. Para Visacro, só a presença permanente do Estado pode substituir o poder paralelo.
4. Operações periódicas planejadas
Enquanto houver armamento pesado nas favelas, incursões continuarão necessárias. Storani defende ações baseadas em inteligência para reduzir riscos a civis. O investigador aposentado Sérgio Leonardo Gomes alerta que, sem planejamento pós-operação, o crime retoma o controle.
5. Logística e equipamentos policiais
José Augusto Leal, presidente do Comitê de Defesa e Segurança da Câmara Britânica, aponta defasagem em comunicação, blindagem e compra de equipamentos. Para ele, a lentidão nas licitações “custa vidas e território”.
6. Tecnologia e rastreamento financeiro
Leal sugere sistemas antidrone, inteligência artificial e bloqueadores de sinal. Marcelo Almeida reforça que “seguir o dinheiro” exige ferramentas de ponta para atingir o núcleo financeiro das facções.
7. Treinamento e valorização das forças de segurança
Storani defende capacitação contínua em mediação de conflitos e operações urbanas. Gomes acrescenta a necessidade de salários dignos, apoio psicológico e retomada de programas de polícia comunitária para aproximar agentes e moradores.
8. Reestruturação das carreiras policiais
Gomes recomenda unificar critérios, reduzir sobreposição de funções e criar planos de carreira que evitem disparidades salariais capazes de abrir espaço para corrupção.
9. Corregedoria atuante
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que denúncias de abuso e corrupção minam a confiança na polícia. Storani defende corregedorias independentes e investigações internas rigorosas.
10. Endurecimento da legislação
Visacro e Storani defendem enquadrar facções como organizações terroristas, o que ampliaria penas e facilitaria cooperação internacional. Eles veem o atual conflito como ameaça à soberania nacional.
Para o especialista em Direito Penal Márcio André Nunes, somente uma estratégia de Estado — e não de governos — poderá desmontar a estrutura criada ao longo de décadas. “Desmobilizar essas organizações é semelhante a reconstruir uma área de guerra”, resume.
Com informações de Gazeta do Povo