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Após mês de “química” entre Lula e Trump, tarifa de 50% dos EUA continua sem avanço

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Brasília — 4 nov. 2025 — Mais de 30 dias depois do encontro em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o republicano Donald Trump trocaram afagos e sinalizaram boa vontade, as exportações brasileiras seguem sujeitas à sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos em agosto. As conversas técnicas iniciadas após a reunião na Malásia não produziram resultados práticos e o cronograma de novas rodadas permanece indefinido.

Tratativas travadas

O roteiro começou com um aperto de mão de 39 segundos nos bastidores da Assembleia-Geral da ONU, em setembro. Em outubro, durante a cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), em Kuala Lumpur, Lula chegou a declarar estar “convencido” de que uma solução surgiria “em poucos dias”.

Logo após a declaração, equipes dos dois países sentaram-se na capital malaia. Pelo Brasil estavam o chanceler Mauro Vieira e o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Márcio Rosa. Representando Washington participaram o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o representante comercial da Casa Branca, Jamieson Greer. Esperado, o secretário de Estado Marco Rubio não apareceu e não explicou a ausência.

Nesse encontro, Vieira reiterou o pedido de suspensão dos 40 pontos percentuais adicionados pelos EUA, deixando apenas os 10% aplicados de forma recíproca por Brasília. Nada ficou acertado além de um calendário preliminar. A reunião ministerial prevista para esta semana, em Washington, entre Vieira, o ministro da Fazenda Fernando Haddad e o vice-presidente e titular da Indústria Geraldo Alckmin, foi adiada sem nova data.

Setor privado vê pouca margem

Greer declarou na quinta-feira (30) que a Casa Branca ainda “analisa o formato do possível acordo” e que esse exame pode tomar “semanas ou meses”. Enquanto espera, o empresariado brasileiro demonstra cautela.

Para o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral, a euforia inicial precisa ser contida: “Não há nada garantido, nem mesmo para café e carne”. O consultor Jackson Campos atribui o movimento de Trump à pressão de importadores norte-americanos, não à empatia com Lula. Já o presidente da Abimaq, José Velloso, lembra que “o Brasil não figura entre as prioridades atuais dos EUA”, voltadas a disputas com China, União Europeia e Sudeste Asiático.

O que está sobre a mesa

Empresários citam como entraves a indefinição sobre contrapartidas exigidas por Washington. Entre elas:

  • Garantias às big techs frente a projetos de regulação brasileiros considerados mais rígidos;
  • Acesso a minerais raros;
  • Abertura maior para o etanol norte-americano, hoje tarifado em 18% pelo Brasil.

O coordenador de Comércio Internacional da BMJ Consultores, Vito Villar, observa que nenhum país conseguiu, até agora, remover totalmente as sobretaxas de Trump, o que indica “negociação longa”.

Possíveis cenários

O presidente da Cisbra, Arno Gleiser, enxerga a chance de um acordo parcial seguido de outro, mais amplo, em prazo maior — modelo semelhante ao acerto de um ano firmado recentemente entre EUA e China, que reduziu tarifas e aumentou compras de soja norte-americana por Pequim.

Velloso mantém o otimismo e calcula três hipóteses para os próximos 90 dias: retirada total dos 40 pontos adicionais, redução para 10% ou alinhamento a patamar europeu de 15%, além de eventuais ampliações na lista de exceções.

Até lá, avaliam lideranças empresariais, o ritmo dependerá do ambiente político interno dos Estados Unidos. Segundo um executivo que acompanha as tratativas, “o timing é de Trump; ele tem as cartas”.

Com informações de Gazeta do Povo