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Megaoperação nos complexos da Penha e Alemão deixa mais de 64 mortos e reacende disputa política entre Rio e governo federal

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Rio de Janeiro – A ação conjunta das polícias Civil e Militar para cumprir cerca de 100 mandados de prisão nos complexos da Penha e do Alemão, zona norte da capital fluminense, terminou nesta terça-feira (28) com 64 mortes — quatro policiais e, segundo os agentes, ao menos 60 integrantes do Comando Vermelho.

Além das baixas, dois moradores ficaram feridos, 81 suspeitos foram capturados e mais de 90 fuzis foram recolhidos. Criminosos chegaram a utilizar drones artesanais para lançar explosivos contra o efetivo policial, composto por aproximadamente 2,5 mil agentes, dois helicópteros, 32 veículos blindados e 12 máquinas usadas para remover barricadas.

Analistas apontam letalidade “inevitável”

Especialistas em segurança consultados pela reportagem consideram o alto número de mortos praticamente inevitável em operações dessa magnitude. Para George Divério, pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Iniciativa Dex, incursões de força periodicamente são necessárias para impedir a consolidação de “Estados paralelos” nas comunidades.

Alessandro Visacro, autor de “Guerra Irregular”, lembrou que facções fluminenses contam com centenas de homens armados e equipamentos de última geração, o que torna improvável capturar lideranças sem confronto direto. “Trata-se de grupos com acesso farto a armas e munição”, disse.

Cobrança por apoio das Forças Armadas

O governador Cláudio Castro (PL) afirmou que a operação vinha sendo planejada há 60 dias e que solicitou três vezes o empréstimo de blindados das Forças Armadas, todos negados. A pasta da Defesa respondeu que recebeu apenas um pedido, em janeiro, vinculado à morte de uma oficial general, e que a cessão de equipamentos exigiria a decretação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

Para o coronel da reserva Fernando Montenegro, que já comandou a ocupação militar na mesma região em 2010, a participação de tropas federais, com recursos de guerra eletrônica, drones próprios e atiradores de elite, poderia ter restringido a movimentação dos criminosos e reduzido riscos aos policiais.

Crise atinge Brasília

As mortes reacenderam a disputa política entre o Palácio Guanabara e o Planalto. Em visita ao Ceará, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, disse não ter recebido solicitação formal de apoio para a ação, além de criticar a falta de “planejamento, inteligência e coordenação”. Deputados aliados, como Tarcísio Motta (PSOL-RJ) e Lindbergh Farias (PT-RJ), reforçaram a necessidade de operações menos letais.

Na Câmara, parlamentares da oposição cogitam convocar Lewandowski para explicar a suposta ausência de cooperação federal. O líder oposicionista Luciano Zucco (PL-RS) e o coronel Assis (União-MT) afirmaram que a negativa de apoio agravou o cenário enfrentado pela polícia fluminense. Já o vice-líder do governo na Casa, Reimont Santa Bárbara (PT-RJ), acusou Castro de “explorar politicamente” a operação e negar informação.

Operação é a mais letal da história do Rio

Com 64 mortes confirmadas até a noite de terça-feira, a ofensiva superou o recorde anterior, registrado em 2021 no Jacarezinho, quando 28 pessoas morreram. Mesmo considerada necessária por parte dos especialistas, a incursão não resolve o controle territorial de facções, alertam analistas — o que exigiria, segundo eles, ações contínuas de contrainsurgência que envolvam políticas sociais, econômicas e urbanísticas.

Enquanto governo estadual e União trocam acusações, a Polícia Civil continua a contabilizar presos, armas apreendidas e a caça a líderes do Comando Vermelho, dois dos quais foram capturados durante a operação, segundo o próprio governador.

Com informações de Gazeta do Povo