Brasília — A Eletronuclear encaminhou ao governo federal um pedido de aporte emergencial de R$ 1,4 bilhão para garantir a continuidade das operações das usinas nucleares Angra 1 e Angra 2 até o fim de 2025.
O ofício foi enviado na semana passada à ENBPar, estatal que controla a empresa, e confirma a possibilidade de colapso operacional e financeiro já a partir de novembro do próximo ano, caso a ajuda não seja liberada. A informação foi publicada pela Folha de S.Paulo nesta segunda-feira (27) e confirmada pela Eletronuclear.
Risco de efeito dominó
Segundo o documento, o esgotamento de caixa pode antecipar R$ 6,5 bilhões em dívidas, bloquear receitas dadas em garantia e inviabilizar de vez o projeto de Angra 3, gerando passivos estimados em R$ 21 bilhões.
A principal pressão sobre as contas é justamente a obra inacabada de Angra 3, que consome cerca de R$ 1 bilhão por ano em manutenção e serviço da dívida. Esses recursos saem da receita de Angra 1 e Angra 2, cuja tarifa foi calculada apenas para cobrir os custos das duas unidades em operação.
Condições para o socorro
No ofício, a Eletronuclear afirma que o aporte de R$ 1,4 bilhão é pré-condição para a emissão de debêntures destinadas a estender a vida útil de Angra 1. A empresa também tenta sacar aproximadamente R$ 1,2 bilhão de um fundo reservado ao descomissionamento de usinas nucleares, operação que depende de autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e da Agência Nacional de Segurança Nuclear (ANSN).
Impacto no Orçamento
Caso o Tesouro Nacional atenda ao pedido, os recursos terão de ser realocados do Orçamento, exigindo cortes em outras áreas. O Ministério da Fazenda declarou que qualquer pleito de reequilíbrio deve vir acompanhado de um plano de sustentabilidade detalhado e ressaltou postura restritiva a novos aportes em estatais.
Mudança de controle privado
O pedido de socorro coincide com a troca de controle na parcela privada da Eletronuclear. A Âmbar Energia, do grupo J&F, assinou contrato para adquirir 67,95% das ações detidas pela Eletrobras — hoje rebatizada de Axia Energia — por R$ 535 milhões.
Em setembro, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, já havia alertado colegas da área econômica sobre o risco imediato de insolvência da companhia após a retirada de aportes previstos para 2026 do Projeto de Lei Orçamentária Anual.
Sem definição sobre Angra 3 e diante do aumento das despesas, a Eletronuclear afirma que, sem o reforço de caixa, dependerá do Tesouro para honrar salários e compromissos operacionais.
Com informações de Gazeta do Povo