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Tensão Lula-Trump suspende exercícios e põe em risco compras militares brasileiras

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Brasília, 24.out.2025 – O atrito político entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já provoca efeitos concretos na cooperação militar dos dois países. Exercícios conjuntos foram cancelados, conferências técnicas não ocorreram e a aquisição de equipamentos estratégicos, como helicópteros Black Hawk, passou a enfrentar incertezas.

Agenda militar emperrada

No fim de julho, a Força Aérea Brasileira (FAB) receberia, em Brasília, uma conferência com militares norte-americanos. O encontro foi retirado da agenda após Washington anunciar elevação de tarifas comerciais para 50% sobre produtos brasileiros.

Um mês depois, o governo federal suspendeu a Operação Formosa, treinamento realizado desde 1988 que, nos últimos anos, incluía fuzileiros navais dos EUA. O deslocamento de 1.600 militares e 60 viaturas do Rio de Janeiro para Formosa (GO) foi mantido, mas os brasileiros treinaram sozinhos na Operação Atlas.

Outro exercício, o CORE (Combined Operations and Rotational Exercises), criado em 2019, também não deve acontecer em novembro. Os EUA haviam enviado uma equipe reduzida alegando restrições orçamentárias; o Ministério da Defesa brasileiro cancelou a etapa sob o argumento de contenção de despesas.

Popularidade interna e pressão externa

Pesquisas recentes apontam avanço da popularidade de Lula após declarações em defesa da “soberania brasileira” diante de Washington. Analistas ouvidos pelas Forças Armadas avaliam que manter o embate com Trump rende dividendos políticos ao Planalto, especialmente enquanto os EUA intensificam ações antinarcóticos no Caribe e no Pacífico.

A Casa Branca reforçou essa ofensiva em 24 de outubro, enviando o grupo de combate do porta-aviões Gerald R. Ford à região e impondo sanções ao presidente colombiano Gustavo Petro e a aliados.

Compras ameaçadas

As Forças Armadas brasileiras negociam a compra de 11 helicópteros Sikorsky UH-60M Black Hawk, avaliados em US$ 229,9 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhão). Embora o Ministério da Defesa veja a operação como essencial para a Amazônia e o litoral, especialistas temem retaliação norte-americana que inviabilize a venda por meio do programa Foreign Military Sales (FMS).

A continuidade do status de “aliado extra-OTAN”, concedido ao Brasil em 2019, também é citada como possível instrumento de pressão. Sem ele, a transferência de tecnologias sensíveis ficaria comprometida.

Dependência estrutural

Para Eduardo Siqueira Brick, professor aposentado da Universidade Federal Fluminense, o país é “totalmente dependente” de fornecedores externos porque não consolidou uma base industrial de Defesa capaz de produzir armas, munições e peças de reposição. Segundo fonte do Exército, eventual corte no fornecimento de peças americanas poderia sucatear a maior parte dos aviões, navios e blindados em até três anos.

A alternativa seria ampliar compras na Europa, sobretudo da França, ou recorrer a fornecedores como China e Irã — opções que não eliminam a dependência de sistemas já adquiridos com componentes norte-americanos.

Diplomacia em xeque

O desfecho imediato pode depender de uma reunião entre Lula e Trump prevista para o próximo domingo, durante encontro diplomático na Malásia. Enquanto o Planalto se aproxima de agendas defendidas pelo Brics, a Casa Branca sinaliza descontentamento e mantém a possibilidade de restringir a cooperação militar caso o Brasil avance em parcerias com regimes considerados adversários de Washington.

Até que haja definição política, militares brasileiros seguem sem data para retomar os exercícios conjuntos nem garantia de acesso a equipamentos e peças fundamentais para a capacidade de defesa do país.

Com informações de Gazeta do Povo