Washington / Moscou – A expectativa anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de encontrar o líder russo Vladimir Putin em Budapeste para discutir o fim da guerra na Ucrânia durou pouco. Menos de uma semana depois do telefonema amistoso de 16 de outubro, a relação entre as duas potências voltou ao confronto, marcada por exercícios nucleares russos e novas sanções americanas.
Da esperança ao adiamento
Na quinta-feira (16), Trump publicou na rede Truth Social que pretendia se reunir “em breve” com Putin na capital húngara para “pôr fim a esta guerra inglória”. O plano começou a se desfazer na segunda-feira (20), quando o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e o chanceler russo, Sergei Lavrov, conversaram por telefone para acertar detalhes do encontro. Lavrov disse que Moscou não faria concessões.
No dia seguinte (21), Trump anunciou o adiamento “por tempo indeterminado” da cúpula. “Não quero uma reunião inútil”, declarou na Casa Branca. Nesta quarta (22), o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, concordou: “Ninguém quer perder tempo”.
Exercícios com armas nucleares
Horas depois, Moscou executou manobras de suas forças estratégicas por terra, mar e ar. O teste incluiu o lançamento de um míssil balístico intercontinental Yars, com alcance de até 12 mil quilômetros, a partir do cosmódromo de Plesetsk, 800 km ao norte de Moscou, em direção ao polígono de Kura, na península de Kamchatka. Também participaram o submarino nuclear Briansk, que disparou um míssil Sineva no mar de Barents, e bombardeiros estratégicos Tu-95C, que lançaram mísseis de cruzeiro.
Paralelamente, o vice-ministro das Relações Exteriores, Sergei Ryabkov, lamentou a ausência de diálogo com Washington sobre não proliferação e alertou para uma “escalada da ameaça nuclear” caso o tratado Start III não seja prorrogado.
Sanções econômicas e controvérsia sobre mísseis
O Wall Street Journal publicou que a Casa Branca teria liberado Kiev a usar mísseis de longo alcance dentro da Rússia, informação classificada por Trump como “fake news” em novo post na Truth Social.
No fim do dia, o Departamento do Tesouro anunciou sanções contra as petrolíferas russas Rosneft e Lukoil, justificando “falta de comprometimento sério” de Moscou com a paz. Ao lado do secretário-geral da Otan, Mark Rutte, Trump chamou as medidas de “tremendas”, mas disse esperar que “não durem muito” se o conflito for resolvido.
Histórico de avanços e recuos
Desde que retomou a Casa Branca em janeiro, Trump prometeu encerrar a guerra “no primeiro dia” do segundo mandato. Em março, costurou dois cessar-fogo parciais que ruíram após ataques russos. Em julho, ameaçou tarifas de 100% sobre produtos russos e sanções secundárias a países que comprassem do Kremlin; o prazo foi adiado para depois de uma reunião no Alasca em 15 de agosto.
O encontro foi considerado “produtivo” por Trump, mas não gerou trégua. Dias depois, o governo impôs tarifa de 50% ao petróleo russo vendido para a Índia. Tentativa de reunião entre Putin e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, articulada por Trump, também fracassou.
Na próxima sexta-feira (24), o conflito completará três anos e oito meses sem sinal claro de desfecho.
Com informações de Gazeta do Povo