Duas igrejas centenárias da Cidade Velha de Mosul, no norte do Iraque, foram oficialmente reabertas esta semana, quase dez anos depois de terem sido destruídas durante a ocupação do Estado Islâmico (EI) entre 2014 e 2017.
Na quarta-feira (20), moradores, líderes religiosos e autoridades internacionais participaram da reconsagração da Igreja de São Tomás, templo siríaco-ortodoxo do século VII. No dia seguinte, quinta-feira (21), foi a vez da Igreja Católica Caldeia de Al-Tahira, conhecida como A Imaculada, voltar a receber fiéis.
Restauração iniciada em 2022
Os trabalhos começaram em 2022 dentro do programa Mosaico de Mosul, coordenado pela Fundação Aliph em parceria com o Conselho Estatal de Antiguidades e Patrimônio do Iraque. A entidade católica francesa L’Œuvre d’Orient administrou o canteiro, com apoio técnico do Instituto Nacional do Patrimônio da França.
Antes de erguer andaimes, equipes especializadas removeram minas terrestres e explosivos deixados pelo EI. Entre as peças recuperadas está a porta de alabastro do século XIII de São Tomás, esculpida em mármore local e representando Cristo com os 12 apóstolos.
População cristã em declínio
Mosul já abrigou uma comunidade cristã que representava 14% da população; hoje restam menos de 60 famílias em uma cidade de quase 2 milhões de habitantes. Para o jovem Fadi, 27 anos, que se formou para atuar no projeto de restauração, a reabertura envia “um sinal de esperança” aos cristãos deslocados.
Sinos restaurados
Os novos sinos, fundidos pela Cornille Havard, na Normandia — a mesma fundição que restaurou os sinos de Notre-Dame de Paris —, voltaram a ressoar sobre Mosul trazendo inscrições como “A verdade vos libertará” e “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou”.
Cerimônia conjunta
O patriarca caldeu Louis Raphaël Sako presidiu a cerimônia em Al-Tahira ao lado do patriarca siríaco-ortodoxo Mor Ignatius Aphrem II. Também compareceram o ministro da Cultura do Iraque, Ahmed al-Badrani, o governador de Nínive, Abdul Qadir al-Dakhil, o embaixador francês Patrick Durel, além de representantes da UNESCO e da Œuvre d’Orient.
Sako destacou que “não se trata apenas de restaurar pedras, mas de restaurar a confiança”, e apelou por relações baseadas em fraternidade e respeito. Ele repudiou milícias que se apresentam como cristãs e pediu direitos plenos e iguais para a minoria no país.
Valor simbólico
Segundo o arcebispo caldeu de Mosul, Najeeb Michael Moussa, “essas igrejas não são apenas pedras; são memória de fé, história e comunidade”.
Mar Toma teria sido erguida no local onde o apóstolo Tomé descansou a caminho da Índia, enquanto Al-Tahira celebra uma suposta intervenção mariana que protegeu a cidade de invasores persas em 1743. Por séculos, ambos os templos funcionaram como pontos de encontro entre cristãos e muçulmanos.
Com a conclusão da obra, os edifícios estão novamente abertos à população de Mosul para celebrações religiosas e visitação pública.
Com informações de Folha Gospel