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Trump deixa linha isolacionista e sela acordo de paz para Gaza com apoio de mais de 20 países

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Washington / Sharm El-Sheikh (Egito) – Depois de prometer encerrar guerras “em 24 horas” sem ajuda externa, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mudou de rota e passou a dividir a mesa de negociações com outros líderes. A guinada resultou, em 13 de outubro, na assinatura de um acordo para pôr fim ao conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, durante cúpula realizada em Sharm El-Sheikh, que reuniu representantes de mais de 20 países.

Virada após iniciativas solitárias fracassarem

Entre a campanha de 2024 e o início do segundo mandato, Trump repetiu que as guerras na Ucrânia e em Gaza não teriam começado se ele estivesse na Casa Branca em 2022 e 2023. Chegou a apresentar, no início de 2025, um plano unilateral para Gaza – que previa retirada dos palestinos, administração norte-americana do enclave e transformação da área em “Riviera do Oriente Médio” – mas recuou diante da rejeição de nações árabes e de aliados ocidentais.

Na frente ucraniana, o republicano anunciou que terminaria o confronto em um dia. Em março, negociou dois cessar-fogo de 30 dias envolvendo ataques a infraestruturas energéticas e operações no Mar Negro, porém viu o presidente russo, Vladimir Putin, descumprir os compromissos.

Busca de parceiros internacionais

Sem resultados concretos, Trump iniciou rodada de consultas. Em agosto, reuniu-se com Putin no Alasca e, em seguida, recebeu na Casa Branca o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, além de líderes europeus e da Otan para discutir garantias de segurança a Kiev. A prometida reunião direta entre Zelensky e Putin não ocorreu por resistência do Kremlin.

Acordo para Gaza

O quadro mudou no Oriente Médio. Em 23 de setembro, à margem da Assembleia Geral da ONU, Trump apresentou esboço de plano de paz a altos funcionários de países árabes e de maioria muçulmana. Dias depois, detalhou a proposta ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. A etapa inicial, que prevê cessar-fogo e troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, foi aceita por Israel e Hamas.

Com mediação conjunta de Estados Unidos, Egito, Catar e Turquia, o entendimento começou a ser aplicado. Em 13 de outubro, o acordo definitivo foi assinado no Egito com participação de líderes como o chanceler alemão, Friedrich Merz; o premiê húngaro, Viktor Orbán; o presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez; a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni; e o presidente francês, Emmanuel Macron. Trump anunciou a ampliação do Conselho da Paz, órgão que comandará a reconstrução de Gaza, para incluir países e entidades interessados.

Análises sobre a mudança de tom

Para Ricardo Bruno Boff, professor da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), a postura reflete o estilo “duas faces” de Trump: “Ele fala alto para a base, mas senta à mesa e negocia quando necessário”. Boff também aponta que a redução do poder relativo dos EUA obriga a Casa Branca a buscar acordos multilaterais.

Fernanda Brandão, coordenadora de Relações Internacionais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio, avalia que, no caso de Gaza, a cooperação tornou-se indispensável diante da resistência de Netanyahu e de membros do governo israelense contrários a um cessar-fogo.

Reflexos possíveis no setor comercial

Boff enxerga a recente aproximação direta entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como sinal de que o espírito cooperativo pode alcançar a agenda econômica. Já Brandão discorda, afirmando que Trump continua disposto a negociar apenas quando os demais aceitam condições favoráveis a Washington.

Apesar das divergências, analistas concordam que, ao menos na questão de Gaza, Trump trocou a retórica de ação solitária pela construção de coalizões internacionais para colher resultados diplomáticos.

Com informações de Gazeta do Povo