Londres/Washington – Aos 72 anos, o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair voltou ao centro das discussões diplomáticas após ser citado como possível peça-chave no plano dos Estados Unidos para um governo de transição na Faixa de Gaza.
A proposta, apresentada na última semana pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump a autoridades israelenses e árabes, prevê a criação da Autoridade Internacional de Transição de Gaza (Gita, na sigla em inglês). O novo organismo, que teria aval das Nações Unidas, poderia administrar o enclave palestino por até cinco anos.
Influência de Blair no desenho do projeto
De acordo com o The Washington Post, a concepção do plano carrega forte influência das ideias que Blair vem defendendo para o Oriente Médio desde que deixou o poder, em 2007. Ex-enviado especial do Quarteto para a região e hoje presidente do Instituto Tony Blair para a Mudança Global, o britânico acumula experiência em negociações sensíveis, como o acordo que encerrou três décadas de conflito na Irlanda do Norte.
Os detalhes sobre o papel que Blair desempenharia ainda são incertos. Fontes ligadas às conversas afirmam que ele pode assumir a chefia direta da Gita ou liderar um conselho de supervisão, sem poderes executivos plenos. Washington analisa diferentes configurações antes de formalizar a proposta.
Rede de contatos no Oriente Médio
Desde o início da guerra entre Israel e Hamas, em 2023, Blair participa de reuniões de alto nível em busca de alternativas para a reconstrução de Gaza. Entre as ideias discutidas esteve um plano que sugeria o reassentamento de parte da população palestina em países vizinhos para erguer uma suposta “Riviera do Oriente Médio” — iniciativa que seu instituto diz ter acompanhado apenas como observador.
O ex-premiê mantém diálogo frequente com Jared Kushner, genro de Trump e interlocutor com o principal assessor do premiê israelense Benjamin Netanyahu, Ron Dermer, além de autoridades da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos. Israel chegou a sondá-lo para coordenar a entrada de ajuda internacional em Gaza, mas a proposta não avançou.
Ceticismo e críticas
Apesar do histórico diplomático, a eventual nomeação de Blair enfrenta resistência. Ao Wall Street Journal, o ex-secretário britânico de Relações Exteriores Malcolm Rifkind avaliou que aceitar o posto seria “um cálice envenenado”. Segundo o jornal, o apoio de Blair à invasão do Iraque em 2003 — quando autorizou o envio de tropas do Reino Unido — ainda pesa contra sua imagem em várias capitais do Oriente Médio.
Por enquanto, a participação do ex-líder trabalhista permanece como uma entre várias opções analisadas por Washington para viabilizar a gestão temporária de Gaza até que israelenses e palestinos alcancem um acordo de longo prazo.
Com informações de Gazeta do Povo