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Gestos de Trump não bastam para Lula reverter tarifa de 50% sobre produtos brasileiros

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Brasília — As palavras amistosas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao encontrar Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, não mudam, por ora, o cenário comercial entre os dois países. A sobretaxa de até 50% que pesa sobre a maioria dos itens exportados pelo Brasil continua em vigor e, segundo analistas, a reversão exigirá complexas concessões econômicas.

Contato inesperado na ONU

Na terça-feira (23), Trump revelou que conversou rapidamente com Lula em Nova York e que os dois planejam uma ligação “na próxima semana”. O movimento não foi articulado previamente — o Palácio do Planalto considerava improvável uma linha direta com a Casa Branca.

Para a consultoria Eurasia Group, o gesto torna o telefonema provável, mas não garante resultado concreto. O presidente norte-americano costuma adotar decisões unilaterais e, por vezes, recuar de compromissos assumidos.

Escalada tarifária até 50%

A crise teve início em abril, quando Washington impôs tarifa adicional de 10% sobre importações brasileiras. Em julho, após operação da Polícia Federal que levou Jair Bolsonaro à prisão domiciliar, o governo dos EUA ampliou a cobrança em mais 40 pontos percentuais, elevando o tributo para 50% na maior parte dos produtos.

Alguns itens, entre eles aviões comerciais, petróleo e derivados, suco de laranja, ferro-níquel e celulose, ficaram isentos ou receberam alíquotas menores. Ainda assim, as vendas brasileiras aos EUA despencaram: em agosto somaram US$ 2,76 bilhões, queda de 18,6% frente ao mesmo mês de 2024, menor patamar para agosto desde 2020.

Condições para possível recuo dos EUA

Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo avaliam que Washington só cogitará reduzir as tarifas se o Brasil abrir mão de barreiras próprias, facilitar investimentos de empresas americanas, negociar minerais críticos e diminuir a tarifa de 18% que incide sobre o etanol norte-americano. O governo Lula trata essas exigências com cautela, principalmente no que se refere à exploração de recursos minerais.

Diversificação vira prioridade

Diante da incerteza, Brasília acelerou estratégias para reduzir a dependência dos EUA, que responderam por 11,7% das exportações brasileiras entre janeiro e agosto.

  • Europa: o acordo de livre-comércio com a EFTA foi assinado em agosto, e o entendimento com a União Europeia é esperado para a Cúpula do Mercosul, em novembro.
  • Ásia: o governo intensifica conversas com Índia, China e países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean). Lula participará da cúpula do bloco em outubro de 2025.
  • Américas: México e Canadá procuraram o Brasil para ampliar laços, aproveitando o enfraquecimento do USMCA sob a gestão Trump.

Reação do setor privado

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Amcham Brasil saudaram a perspectiva de diálogo direto entre os presidentes, mas defendem a continuidade da busca por novos mercados. No mercado financeiro, o sentimento é de otimismo cauteloso: gestores apontam que a diversificação comercial tornou-se imperativa após o choque tarifário.

Para especialistas, o sucesso de uma negociação com Washington depende de postura pragmática do Brasil, que precisará combinar firmeza política a um plano técnico capaz de preservar interesses estratégicos sem fechar portas para o comércio bilateral.

Com informações de Gazeta do Povo