Brasília, 10 de setembro de 2025 – Depois de um alívio pontual entre julho e agosto, o café vendido no Brasil tende a ficar mais caro nas próximas semanas. A combinação de quebra de safra, geadas no Cerrado Mineiro e a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre o produto brasileiro elevou a incerteza no mercado e inverteu a trajetória de queda observada no início do segundo semestre.
Escalada de preços e impacto no IPCA
Entre janeiro de 2024 e junho de 2025, o café moído acumulou alta de 99,48% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O indicador registrou deflação de 2,17% entre julho e agosto, mas economistas já projetam nova pressão inflacionária ao longo do último trimestre.
Flutuação das cotações internas
A saca de 60 kg de café arábica atingiu o recorde de R$ 2.769,45 em 12 de fevereiro, segundo o Cepea/Esalq. Com o avanço da colheita e menor demanda, o valor recuou para R$ 1.682,70 em julho. No fim de agosto, voltou a subir para R$ 2.323,06, alta de 38% em um mês. Na variedade robusta, a cotação caiu de R$ 2.087,05 (fevereiro) para R$ 975,70 (julho) e saltou para R$ 1.534,41 (+57,3%) no mesmo intervalo.
Futuros em NY e Londres voltam a subir
No dia 6 de agosto, quando entrou em vigor a tarifa norte-americana, o arábica era negociado a US$ 286 por cem libras-peso em Nova York, e o robusta a US$ 3.340 por tonelada em Londres. Em 31 de agosto, os contratos avançaram para US$ 386 (+34,9%) e US$ 4.815 (+44,2%), respectivamente.
Oferta menor após perdas climáticas
Geadas em 10 e 11 de agosto causaram perdas estimadas entre 400 mil e 600 mil sacas no Cerrado Mineiro. A Conab calcula produção de 35,2 milhões de sacas de arábica em 2025, 11,2% abaixo da safra anterior. Projeção do Itaú BBA aponta 38,7 milhões de sacas, 11,5% menor que o ciclo passado.
Tarifa dos EUA afeta comércio
O governo dos Estados Unidos elevou a tarifa sobre o café brasileiro de 10% para 50% em 30 de julho. Entre janeiro e julho, as exportações ao mercado norte-americano caíram 22,4% ante o mesmo período de 2024, segundo o MDIC. Em agosto, o Brasil embarcou 298 mil sacas para os EUA, retração anual de 47,1%.
Repasse ao consumidor já começou
Em 1.º de setembro, a Melitta reajustou em 15% o preço do café beneficiado. A 3corações aumentou em 10% o torrado e moído e em 7% o solúvel, alegando alta do grão verde e volatilidade climática. O grão cru responde por cerca de 40% do custo de atacado de uma saca torrada e moída.
Imagem: criada utilizando Dall-E
Demanda global em alta e estoques baixos
A Conab projeta consumo mundial recorde de 169,4 milhões de sacas em 2025/26, avanço de 1,7% sobre o ciclo anterior. Os estoques iniciais da nova safra devem ficar em 21,8 milhões de sacas, o menor nível em 25 anos, fator que limita a possibilidade de quedas expressivas nas cotações.
Negociação por isenção continua
Entidades do setor, como o Cecafé, buscam incluir o café na lista de exceções tarifárias dos EUA até o fim do ano. A organização defende diálogo privado para evitar a aplicação da Lei de Reciprocidade Econômica anunciada pelo governo brasileiro, temendo novos entraves comerciais.
Sem acordo, analistas avaliam que os custos extras tendem a ser repassados ao consumidor final no Brasil e no exterior, prolongando a pressão sobre os preços da bebida.
Com informações de Gazeta do Povo