Brasília – De passagem pelo Brasil no fim de agosto, a jurista ucraniana Oleksandra Matviichuk, vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2022 e fundadora do Centro pelas Liberdades Civis, apelou aos brasileiros para que a invasão russa à Ucrânia permaneça na agenda política nacional.
Em palestra na capital federal organizada pela Casa Dom Luciano, da Igreja Católica, e pela Embaixada da Ucrânia, Matviichuk afirmou que “manter o tema em debate é essencial para impedir que as atrocidades continuem longe dos olhos do mundo”.
Documentação de crimes de guerra
Segundo a ativista, o centro que dirige já registrou cerca de 89 mil violações de direitos humanos desde a anexação russa da Crimeia e parte do Donbas, em 2014. As denúncias incluem tortura, estupro, sequestros, assassinatos e deportações forçadas, enviadas a instâncias como o Tribunal Penal Internacional, a Comissão de Inquérito da ONU e o Mecanismo de Moscou da OSCE.
A jurista informou ainda que 19 mil crianças ucranianas foram removidas à força para programas de “russificação” e adoção em território russo. “O Brasil, que mantém diálogo aberto com Moscou, pode usar essa relação para pressionar pela devolução dessas crianças”, afirmou.
Impacto das sanções e comércio brasileiro
Questionada sobre a continuidade das importações brasileiras de diesel russo, que somaram mais de R$ 38 bilhões em 2024, Matviichuk lembrou que 40% do orçamento da Rússia é destinado a gastos militares. “Ao negociar com Moscou, países acabam financiando drones e mísseis que atingem hospitais, escolas e residências na Ucrânia”, declarou.
“24 horas mais longas da história”
Ao comentar a promessa do ex-presidente norte-americano Donald Trump de encerrar o conflito em 24 horas, a laureada respondeu que essa seria “a madrugada mais longa da humanidade”. Para ela, os Estados Unidos têm poder para conter o Kremlin, mas o envolvimento de outras nações continua imprescindível.
Imagem: Luis Kawaguti
Experiência na Revolução da Dignidade
Matviichuk recordou o papel da sociedade civil durante a Revolução de Maidan, em 2014, quando redes de advogados, montadas por seu centro, ofereceram assistência a manifestantes presos. “Na Ucrânia, liberdade é questão de sobrevivência. Quando algo vital acontece, não esperamos pelo Estado; nós nos organizamos”, relatou.
Ao final, a vencedora do Nobel reforçou o pedido de apoio: “Ajudem-nos a manter a Ucrânia na pauta política do Brasil. Se o mundo se distrair, as violações podem se agravar”.
Com informações de Gazeta do Povo