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Tarifas dos EUA contra o Brasil ameaçam empregos, investimentos e exportações, dizem estudos

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As tarifas de importação dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, em vigor desde 6 de agosto, elevam em até 30 vezes a alíquota média paga em 2024 e podem retirar bilhões de reais da economia nacional, segundo projeções de entidades da indústria e de bancos.

Escalada nas relações bilaterais

Anunciado em julho pelo presidente Donald Trump, o aumento tarifário foi justificado pela Casa Branca como resposta a uma “emergência nacional” relacionada a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e do ministro Alexandre de Moraes. O BTG Pactual calcula que a tarifa média saltou de 1,3% para cerca de 40% sobre parte da pauta exportadora, embora 694 produtos tenham sido isentados.

Impacto sobre PIB e empregos

Levantamento da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) prevê recuo de R$ 25,8 bilhões no PIB em até dois anos, com eliminação de 146 mil postos formais e informais e perda de R$ 2,74 bilhões na renda das famílias. Em dez anos, as perdas podem chegar a quase 1% do PIB e atingir 618 mil empregos.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima cenário ainda mais severo caso haja retaliações mútuas profundas, apontando risco de fechamento de 5 milhões de vagas e redução de 6% do PIB em uma década.

Efeitos nos preços e na atividade

Para a XP Investimentos, o impacto direto nas contas nacionais é limitado, mas suficiente para reduzir a projeção de crescimento do PIB de 2025 de 2,5% para 2,2%. A Blue3 Investimentos avalia que, num primeiro momento, a oferta interna de itens como carne bovina pode aumentar, segurando a inflação. No médio prazo, porém, ajustes na produção tendem a pressionar preços novamente.

O UBS Wealth Management lembra que exportações e importações representam apenas 28% do PIB brasileiro, e as vendas aos EUA equivalem a 16% do total exportado, ou menos de 2% do PIB, o que atenua o choque macroeconômico imediato.

Exportações sob pressão

Mesmo com exceções, 77,8% dos produtos brasileiros enviados aos EUA pagarão algum tipo de sobretaxa, e mais da metade enfrentará alíquotas de 50%, segundo a CNI. Em 2024, cada R$ 1 bilhão exportado ao mercado norte-americano sustentou 24,3 mil empregos e gerou R$ 3,2 bilhões em produção doméstica.

Setores mais atingidos

Carne bovina e pescados: tarifa total de 74% inviabiliza embarques, atingindo JBS e Marfrig.

Minério de ferro e metais básicos: alíquota de 50% afeta Vale e CSN Mineração.

Açúcar: tarifa de 50% impacta Cosan e São Martinho.

Autopeças: 27,5% para veículos leves e 52,5% para tratores e caminhões reduzem competitividade de Fras-le, Iochpe-Maxion e Metalúrgica Gerdau.

Máquinas e equipamentos: exportações da WEG, Tupy e Randon ficam menos viáveis.

Celulose: tarifa de 50% atinge Suzano.

Têxteis e calçados: sobretaxas de até 50% pressionam Alpargatas e Arezzo.

Micro e pequenas empresas são consideradas as mais vulneráveis, com risco de saída de cadeias globais.

Setores menos afetados

Petróleo e derivados: quase todas as vendas isentas; Petrobras mantém acesso irrestrito ao mercado americano.

Aeronáutica: Embraer ficou fora das novas tarifas.

Suco de laranja: taxa reduzida de 10% favorece Cutrale e Citrosuco.

Tarifas dos EUA contra o Brasil ameaçam empregos, investimentos e exportações, dizem estudos - Imagem do artigo original

Imagem: criada usando Dall-E via gazetadopovo.com.br

Redirecionamento de investimentos

Diante do novo cenário, multinacionais brasileiras revisam estratégias. A Gerdau pretende cortar aportes domésticos a partir de 2026 e priorizar fábricas nos EUA. A Taurus transferirá, em setembro, parte da linha de pistolas da família G para sua unidade na Geórgia, deslocando 900 das 2,1 mil armas produzidas diariamente no Brasil.

No segmento de máquinas, a WEG planeja ampliar capacidade em solo americano para contornar tarifas. A Embraer, beneficiada pela isenção, também condiciona novos investimentos nos EUA ao desempenho do cargueiro militar KC-390.

Capital estrangeiro no país

Os EUA seguem como maior investidor no Brasil, com estoque de US$ 357,8 bilhões em 2024, ante US$ 108,7 bilhões em 2014, conforme a CNI. Entretanto, consultorias apontam que a combinação de tarifaço e alta do IOF encarece o custo de capital, adia operações de fusões e aquisições e aumenta a volatilidade cambial.

Ainda assim, áreas como tecnologia, energia e infraestrutura continuam atraindo grandes aportes: Microsoft, Amazon, CloudHQ, ExxonMobil, Chevron e Pfizer mantêm anúncios bilionários para data centers, petróleo e saúde.

Escritórios de advocacia relatam suspensão de negócios que miravam transformar o Brasil em plataforma exportadora, enquanto fundos de private equity monitoram o câmbio antes de retomar negociações.

O governo brasileiro busca novas rotas comerciais e avalia recorrer a órgãos internacionais para contestar a decisão norte-americana.

Com informações de Gazeta do Povo