O conselho de administração da Petrobras aprovou na quinta-feira, 7 de agosto, o reingresso da companhia no mercado de distribuição de combustíveis, iniciando pelo gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha. A decisão provocou reação imediata no mercado financeiro, onde investidores temem nova interferência do governo nos preços e, consequentemente, nos resultados da estatal.
Queda nas ações e preocupação com preços
Desde o anúncio, os papéis da Petrobras acumulam perda de 17%, atingindo o menor patamar de 2025. Analistas avaliam que a volta da empresa à distribuição pode abrir espaço para controle de preços, o que afetaria o retorno dos investimentos.
Apoio dos petroleiros
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) comemorou a medida, classificando-a como “vitória dos trabalhadores”. A entidade, que contribuiu para inserir o tema no programa de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, defende que a Petrobras retome também a distribuição de gasolina, diesel, etanol e lubrificantes, atividades vendidas à BR Distribuidora em 2021.
Disparidade entre refinarias e bombas
Um dos argumentos para o retorno é a diferença entre os preços praticados nas refinarias e os cobrados ao consumidor. Dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostram que, entre janeiro de 2023 e abril de 2025, as cotações nas refinarias caíram, mas o repasse não ocorreu de forma integral. No período, o preço da gasolina nas bombas subiu 25,5%, enquanto o diesel S10 recuou 2,3% e o GLP 0,7%. Até 5 de agosto, a gasolina ao consumidor ainda apresentava alta de 21,1%.
Diretrizes do plano estratégico
No Plano Estratégico, a Petrobras estabelece que a distribuição deve:
- priorizar negócios rentáveis via parcerias;
- concentrar-se inicialmente no GLP;
- integrar-se a outras operações no Brasil e no exterior;
- oferecer soluções de baixo carbono.
Resultados do segundo trimestre
No segundo trimestre de 2025, a estatal registrou produção de petróleo 4,8% maior, lucro líquido entre US$ 4,7 bilhões e US$ 4,8 bilhões e EBITDA ajustado de US$ 10,2 bilhões, números considerados em linha com as projeções de casas como Suno Research, Safra e XP Investimentos.
O investimento (capex) alcançou US$ 4,1 bilhões, superando levemente as estimativas. A companhia anunciou que pretende executar 100% do montante previsto em seu plano de negócios, porcentual superior ao histórico de 70% a 80%, o que reduziu o fluxo de caixa livre em 24% frente ao trimestre anterior.

Imagem: André Mota de Souza via gazetadopovo.com.br
Dividendos menores
O aperto no caixa levou à distribuição de US$ 1,6 bilhão em dividendos no trimestre, com rendimento entre 2,0% e 2,1%, abaixo das expectativas e inferior ao montante pago nos três primeiros meses do ano. A empresa sinalizou que não haverá dividendos extraordinários.
Cláusula de não concorrência e cronograma
A XP Investimentos lembra que a Petrobras está sujeita a um acordo de não concorrência com a Vibra Energia, que a impede de atuar na distribuição de combustíveis líquidos até meados de 2029. Por isso, a operação voltada ao GLP deverá começar efetivamente apenas em 2026.
Avaliação de risco
Embora a Genial Investimentos destaque que a Petrobras negocia a múltiplos inferiores aos de outras petroleiras globais — impulsionada pelo baixo custo de extração no pré-sal, estimado em US$ 4 por barril, e pela distribuição de mais de R$ 500 bilhões em dividendos nos últimos cinco anos —, analistas veem risco elevado. Entre os fatores citados estão o caráter estatal da companhia, o prêmio de risco exigido para investimentos no Brasil e a expansão para segmentos considerados de rentabilidade menor, como parques eólicos offshore, postos de combustível e botijões de gás.
A evolução da política de preços, a execução do plano de distribuição e a estratégia de dividendos permanecem no centro das atenções do mercado.
Com informações de Gazeta do Povo